Cotidiano de uma doméstica
Leda Coletti
Rita está exausta. Chegou da casa da patroa aí pelas 17 horas, e vai repetir tudo o que fez durante o dia: lavar e passar roupa, fazer o jantar que servirá de almoço para o dia seguinte e, ainda se sobrar um tempo, dar “um jeito” na arrumação do barraco. Este possui sala-quarto, cozinha e banheiro. Os três cômodos juntos caberiam na área de serviço do apartamento, aonde trabalha.
Nesse dia chegou mais preocupada que os outros. Ouviu uma conversa no ônibus, que a deixou intrigada. Soube que a Belinha, colega de sua filha está grávida e, segundo a mulher que espalhava a notícia, o pai era o seu filho Guilherme. Ela sabia que seu filho andava de namorico já há algum tempo. Se isso for verdade, de nada valeram seus conselhos para tomar cuidado nos seus relacionamentos, procurando sempre respeitar as colegas, sobretudo porque ele ainda é “de menor.”A garota é ainda mais nova do que ele.
Separada do marido há dois anos, faz às vezes de mãe e pai. Como se sente sozinha! Mas ao mesmo tempo se justifica: “O que adiantaria ter o Zé em minha companhia?” Ele não se importava com a educação dos dois filhos e, quando eu reclamava de algo que aprontavam, era rápido no comentário:
-Você é quem deve olhar o que as crianças fazem de errado. Eu não tenho tempo e não levo jeito para ralhar com elas. E saía de fininho em direção ao bar, onde passava as horas bebendo e jogando conversa fora com outros colegas.
E ela sempre dando de duro! A vida já estava ficando insuportável. Deu pois um “basta” no casamento. Aliás, nem fora casamento; haviam juntado “os trapos”, como se costuma dizer.
Está na expectativa de que seu filho venha para casa jantar. Pretende dar-lhe uma “prensa”. Fala para si mesma: “Como irei me virar se isso for verdade? Sabe que a garota é de família pobre, tanto quanto a sua. No fundo tem esperança de que tudo não tenha passado de fofoca daquela senhora. Já ouviu dizer que esta gosta de se intrometer na vida alheia!
Senta um pouco para ver a tevê. Já está tarde e nada dele vir! Assiste ao programa do Ratinho, mas quase não consegue prestar atenção. Quando menos espera está cochilando.
Não vê Guilherme entrar e ir direto para o beliche na parte superior.
Quando Rita acorda, já é madrugada. Vê o filho dormindo tão gostoso e não tem coragem de chamá-lo. Vai buscar as cobertas e novamente deita no sofá desbotado, com molas quebradas e diz baixinho:
- Amanhã é outro dia, quem sabe a vida vai melhorar...
Leda Coletti
Rita está exausta. Chegou da casa da patroa aí pelas 17 horas, e vai repetir tudo o que fez durante o dia: lavar e passar roupa, fazer o jantar que servirá de almoço para o dia seguinte e, ainda se sobrar um tempo, dar “um jeito” na arrumação do barraco. Este possui sala-quarto, cozinha e banheiro. Os três cômodos juntos caberiam na área de serviço do apartamento, aonde trabalha.
Nesse dia chegou mais preocupada que os outros. Ouviu uma conversa no ônibus, que a deixou intrigada. Soube que a Belinha, colega de sua filha está grávida e, segundo a mulher que espalhava a notícia, o pai era o seu filho Guilherme. Ela sabia que seu filho andava de namorico já há algum tempo. Se isso for verdade, de nada valeram seus conselhos para tomar cuidado nos seus relacionamentos, procurando sempre respeitar as colegas, sobretudo porque ele ainda é “de menor.”A garota é ainda mais nova do que ele.
Separada do marido há dois anos, faz às vezes de mãe e pai. Como se sente sozinha! Mas ao mesmo tempo se justifica: “O que adiantaria ter o Zé em minha companhia?” Ele não se importava com a educação dos dois filhos e, quando eu reclamava de algo que aprontavam, era rápido no comentário:
-Você é quem deve olhar o que as crianças fazem de errado. Eu não tenho tempo e não levo jeito para ralhar com elas. E saía de fininho em direção ao bar, onde passava as horas bebendo e jogando conversa fora com outros colegas.
E ela sempre dando de duro! A vida já estava ficando insuportável. Deu pois um “basta” no casamento. Aliás, nem fora casamento; haviam juntado “os trapos”, como se costuma dizer.
Está na expectativa de que seu filho venha para casa jantar. Pretende dar-lhe uma “prensa”. Fala para si mesma: “Como irei me virar se isso for verdade? Sabe que a garota é de família pobre, tanto quanto a sua. No fundo tem esperança de que tudo não tenha passado de fofoca daquela senhora. Já ouviu dizer que esta gosta de se intrometer na vida alheia!
Senta um pouco para ver a tevê. Já está tarde e nada dele vir! Assiste ao programa do Ratinho, mas quase não consegue prestar atenção. Quando menos espera está cochilando.
Não vê Guilherme entrar e ir direto para o beliche na parte superior.
Quando Rita acorda, já é madrugada. Vê o filho dormindo tão gostoso e não tem coragem de chamá-lo. Vai buscar as cobertas e novamente deita no sofá desbotado, com molas quebradas e diz baixinho:
- Amanhã é outro dia, quem sabe a vida vai melhorar...
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