Visita ou novela?
Plínio Montagner
As visitas estão na rabeira da tabela de qualquer compromisso.
Está com saudades da vovó? Do cunhado? Telefona, e pronto.
Mas, e o contato, a emoção, a etiqueta e o cafezinho que fortalece relações? Para que vão servir aquelas xícaras e talheres maravilhosos?
Visitar faz bem. Não é como conversar ao redor de uma mesa de bar, com barulho e presença de outros.
É bom conhecer ambientes, a decoração e como vivem seus donos. Isso não é bisbilhotar. É como um abraço social.
Visitar parentes próximos, até nossa mãe, a etiqueta ensina: avise, ou não vá, mesmo seja seu amigo de infância.
Trabalhamos em casa, nossa diversão é em casa, o computador é a ferramenta de nosso trabalho, a internet e a televisão nossa diversão impessoal.
A população sai de casa? Sim! para ir aos shoppings, à padaria, ao açougue, à farmácia, ao banco. A conversa minguou. Conversa de rua não vale, no banco é fria e desatenta, no hospital é triste. As visitas ficaram sem espaço e sem tempo.
O abraço escasseou; o sorriso ficou insosso, e a sinceridade duvidosa. Fofocar é divertido, piadas descontraem e falar sobre coisas boas e engraçadas fazem bem. Mas, onde conversar?
Aquelas salas de visitas lindas, com sofás e poltronas caríssimas, só deixam a sala bonita. Mas vazia. Os tapetes raros, as pinturas caras, os outros poderiam apreciar. Coisas belas e raras, e conforto, são como dinheiro, nada valem se escondidos e sem uso.
A cozinha - ah! A cozinha... Que lugar aconchegante era, cadeiras de palhinha do tempo dos nossos avós. As casas deveriam ser assim: uma cozinha enorme que servisse de sala de visitas, de almoço e de jantar.
Salas de jantar? São usadas só no dia de Natal e Ano Novo. Mas até nesses dias elas ficam intocáveis, e as conversas aguardadas - guardadas.
Como o corpo atrofia pelo desuso, a linguagem e a conversa também, ficam chochas. Estamos tão atarefados, e são tantos os compromissos, que perdemos o ímpeto de sair de casa para visitas; além de não ficar bem constranger um amigo, obrigando-lo, talvez, àquele corre-corre para se recompor e arrumar a bagunça dos netos. Daí, a TV liquida o assunto e a visita fica para depois.
Nossa vida ficou longa, mas socialmente breve.
Temos mais coisas, mas menos espaços; mais diversões, e menos tempo, mais amigos, e menos contatos.
Vemos mais os e-mails, o House, a Ophra, o Faustão, novelas e futebol.
Enturmar é preciso. Se as salas de visitas ociosas não acolhem tanto, nos instalemos então noutras mesas e poltronas para não perdermos o hábito de falar.
Plínio Montagner
As visitas estão na rabeira da tabela de qualquer compromisso.
Está com saudades da vovó? Do cunhado? Telefona, e pronto.
Mas, e o contato, a emoção, a etiqueta e o cafezinho que fortalece relações? Para que vão servir aquelas xícaras e talheres maravilhosos?
Visitar faz bem. Não é como conversar ao redor de uma mesa de bar, com barulho e presença de outros.
É bom conhecer ambientes, a decoração e como vivem seus donos. Isso não é bisbilhotar. É como um abraço social.
Visitar parentes próximos, até nossa mãe, a etiqueta ensina: avise, ou não vá, mesmo seja seu amigo de infância.
Trabalhamos em casa, nossa diversão é em casa, o computador é a ferramenta de nosso trabalho, a internet e a televisão nossa diversão impessoal.
A população sai de casa? Sim! para ir aos shoppings, à padaria, ao açougue, à farmácia, ao banco. A conversa minguou. Conversa de rua não vale, no banco é fria e desatenta, no hospital é triste. As visitas ficaram sem espaço e sem tempo.
O abraço escasseou; o sorriso ficou insosso, e a sinceridade duvidosa. Fofocar é divertido, piadas descontraem e falar sobre coisas boas e engraçadas fazem bem. Mas, onde conversar?
Aquelas salas de visitas lindas, com sofás e poltronas caríssimas, só deixam a sala bonita. Mas vazia. Os tapetes raros, as pinturas caras, os outros poderiam apreciar. Coisas belas e raras, e conforto, são como dinheiro, nada valem se escondidos e sem uso.
A cozinha - ah! A cozinha... Que lugar aconchegante era, cadeiras de palhinha do tempo dos nossos avós. As casas deveriam ser assim: uma cozinha enorme que servisse de sala de visitas, de almoço e de jantar.
Salas de jantar? São usadas só no dia de Natal e Ano Novo. Mas até nesses dias elas ficam intocáveis, e as conversas aguardadas - guardadas.
Como o corpo atrofia pelo desuso, a linguagem e a conversa também, ficam chochas. Estamos tão atarefados, e são tantos os compromissos, que perdemos o ímpeto de sair de casa para visitas; além de não ficar bem constranger um amigo, obrigando-lo, talvez, àquele corre-corre para se recompor e arrumar a bagunça dos netos. Daí, a TV liquida o assunto e a visita fica para depois.
Nossa vida ficou longa, mas socialmente breve.
Temos mais coisas, mas menos espaços; mais diversões, e menos tempo, mais amigos, e menos contatos.
Vemos mais os e-mails, o House, a Ophra, o Faustão, novelas e futebol.
Enturmar é preciso. Se as salas de visitas ociosas não acolhem tanto, nos instalemos então noutras mesas e poltronas para não perdermos o hábito de falar.
28/01/2010, 9:19:18 pm
ResponderExcluirNome: Leda Coletti
Os textos dos escritores estão muito ricos em criatividade, conteúdo, e despertam ainda mais interesse, pelas bonitas ilustrações que Ivana acrescenta em cada um deles. Sua disponibilidade para com a literatura, quer nesse blog, quer na imprensa local, deve ser ressaltada e elogiada.Obrigada por proporcionar leituras dos colegas escritores. Abraços, Leda
Maravilha, Plínio! Sim, você disse tudo, tudo, tudo. Que texto lindo! E muito verdadeiro. "Temos mais amigos e menos contatos" - esse é o tempo tecnológico em que vivemos. Teclamos em vez de ligar e conversar... Ou marcar uma visita. Pode isso? Bela reflexão, Plínio.
ResponderExcluirAbraços da Marisa Bueloni