ABSURDOS
Plinio Montagner
São tantas as coisas boas, e tantas as ruins.
O bonito sabemos que existe, mas sabemos porque existe o feio. E o feio é feio e o bonito é bonito porque a cultura ensinou assim. Bicho não sabe do feio e do bonito, nem criança.
E existe ainda o feio no belo. Como se explica? E beleza no feio?
Outros paradoxos há.
Havendo amor, o baixo e o alto não se colidem nem brigam. O gordo e o magro vivem em paz.
O inteligente sobrevive sem o néscio porque um precisa do outro.
O esperto precisa do bobo e o bobo se faz de bobo para se aproveitar do esperto.
O bobo é mais feliz, disse a escritora Clarisse Lispector, senão mais sábio que o próprio sábio. O bobo não discute nem tem interesse de ganhar brigas.
E lhe sobra tempo para gozar o que o esperto faz.
Quem realiza sonhos é feliz. Isso é mais fácil para quem tem dinheiro e excesso de tudo.
Quem tem só uma camisa é o quê?
Se o moço pobre não tem nada, mas tem uma mãe ou um governo que lava e passa sua roupa, oferece uma cama, um teto, comida, e universidades, e bolsas, muitas bolsas - quer mais o quê? Trabalhar, para quê? Quem é o bobo?
Bobo tem tempo para ouvir música, refletir, escrever, comer devagar. Não paga contas, ganha, e não trabalha. O esperto e inteligente trabalham.
O pobre é como o bobo, é próspero porque tem em abundância o tempo e escassez de preocupações.
A ascensão das mulheres favoreceu o aparecimento do tipo despreocupado desempregado.
Procurar serviço para quê?
O vagabundo não nasce, ele se forma porque se acostuma.
Um telefonema demorava horas. O telégrafo funcionava, os navios e locomotivas a vapor e os aviões bimotores chegavam ao destino.
O “chique” e o romântico existiam em cada baile da vida.
Tempo para aconchegos havia, namoros românticos no cinema, paz. Pais e filhos e filhas e netos se viam, e jantavam à mesma mesa.
Correntes puxavam veículos. A taramela (leia - tramela...) fechavam portas e janelas.
As invenções encheram a casa de trecos, a medicina prolongou a vida, o mundo ficou maior. A comunicação velocíssima era para sobrar tempo para passear, pescar e prosear.
Tudo ao contrário. Correria, para chegar antes, ganhar mais, produzir mais, saber mais, aprender mais, e morrer triste, e só.
Cadê o tempo para escrever, ler, refletir, namorar e tomar sorvete?
Plinio Montagner
São tantas as coisas boas, e tantas as ruins.
O bonito sabemos que existe, mas sabemos porque existe o feio. E o feio é feio e o bonito é bonito porque a cultura ensinou assim. Bicho não sabe do feio e do bonito, nem criança.
E existe ainda o feio no belo. Como se explica? E beleza no feio?
Outros paradoxos há.
Havendo amor, o baixo e o alto não se colidem nem brigam. O gordo e o magro vivem em paz.
O inteligente sobrevive sem o néscio porque um precisa do outro.
O esperto precisa do bobo e o bobo se faz de bobo para se aproveitar do esperto.
O bobo é mais feliz, disse a escritora Clarisse Lispector, senão mais sábio que o próprio sábio. O bobo não discute nem tem interesse de ganhar brigas.
E lhe sobra tempo para gozar o que o esperto faz.
Quem realiza sonhos é feliz. Isso é mais fácil para quem tem dinheiro e excesso de tudo.
Quem tem só uma camisa é o quê?
Se o moço pobre não tem nada, mas tem uma mãe ou um governo que lava e passa sua roupa, oferece uma cama, um teto, comida, e universidades, e bolsas, muitas bolsas - quer mais o quê? Trabalhar, para quê? Quem é o bobo?
Bobo tem tempo para ouvir música, refletir, escrever, comer devagar. Não paga contas, ganha, e não trabalha. O esperto e inteligente trabalham.
O pobre é como o bobo, é próspero porque tem em abundância o tempo e escassez de preocupações.
A ascensão das mulheres favoreceu o aparecimento do tipo despreocupado desempregado.
Procurar serviço para quê?
O vagabundo não nasce, ele se forma porque se acostuma.
Um telefonema demorava horas. O telégrafo funcionava, os navios e locomotivas a vapor e os aviões bimotores chegavam ao destino.
O “chique” e o romântico existiam em cada baile da vida.
Tempo para aconchegos havia, namoros românticos no cinema, paz. Pais e filhos e filhas e netos se viam, e jantavam à mesma mesa.
Correntes puxavam veículos. A taramela (leia - tramela...) fechavam portas e janelas.
As invenções encheram a casa de trecos, a medicina prolongou a vida, o mundo ficou maior. A comunicação velocíssima era para sobrar tempo para passear, pescar e prosear.
Tudo ao contrário. Correria, para chegar antes, ganhar mais, produzir mais, saber mais, aprender mais, e morrer triste, e só.
Cadê o tempo para escrever, ler, refletir, namorar e tomar sorvete?
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