SAUDOSOS ANOS ESCOLARES
Lino Vitti
Ah! se a adolescência voltasse! Ah! se por um estranho milagre os tempos voltassem e nos levassem de novo àqueles dias de surpresas, de encantamento, de fuga, de sonhos, de esperanças, em que nos matricularam pelos primeiros anos no templo de cultura e saudade que é a primeira escola, a escola primaria, quando e onde zelosos e pacientes professores tudo faziam para destravar as inteligências infantis e incutir nelas o ABC, as contas de somar, subtrair, dividir, multiplicar, a maneira de fazer uma boa e louvável leitura, a história do Brasil, a geografia da Pátria, e até a ser músico ou poeta!
Todos, mas todos mesmo aqueles que tiveram esse privilégio recordam com nitidez, com infinita saudade, com esperanças de um retorno impossível, os dias em que, às mãos do pai ou da mãe, adentramos aquelas portas escancaradas, porque livres e acolhedoras, e nos dirigimos à mesa do diretor, de um mestre encarregado ou de um excelente funcionário, para dar o nosso nome, nossa filiação, nossa data de nascimento, e receber as palavras de alegria: “pronto, já estás matriculado. Agora e só aparecer todos os dias, comprar cadernos, lápis, e livros com o passar dos dias, e aprender a ler, escrever, contar, e “sonhar” com o dia de receber o diploma como passaporte para ensinos superiores e novos vencimentos e fortalecimentos da inteligência e para ser um dia algo na vida, com aproveitamento integral do trabalho condigno dos mestres primeiros que ficaram atrás, mas brilham como um farol indicativo de vitórias e saber.
Nunca na vida se esquece dos mestres que nos alfabetizaram e nos deram chances irretorquíveis de vencer na vida, e embora a quase totalidade os traga na memória cercados de luzes como num altar, de onde nos apontaram o caminho certo e vitorioso, há sempre os ingratos que dos mestres não gostam, que dos mestres se esquecem, que os mestres não amaram e quiçá não amem nunca. Eles nos guiaram como pais, nos conduziram como santas mães, nos transformaram de pessoas broncas e incapazes, em “filhos” iluminados e corajosos para sermos vitoriosos nas lutas inarredáveis da vida. Ser grato aos primeiros (e posteriores) mestres é ato divino, é ser um cidadão formado no idealismo e na cultura, na fé e nas realizações. Como é possível existir alguém que se esqueça deles, que os não lembre, que os não respeite, que não os ame, chegando alguns ao cúmulo de os odiarem, como se foram inimigos.
O inverso entretanto ocorre com a maioria daqueles que tiveram um generoso mestre primário, Daquele ou daquela que não tiveram duvidas nem receio de enfrentar o sertão, a solidão, os perigos de uma região rural, silenciosa e solitária, sem transporte e sem o calor da família e dos amigos, como herói (e heroína), para assumir o ensino primário, o ensino das primeiras letras e os primeiros números aos humildes moradores infantis do sertão. Ah! são mestres inesquecíveis, mestres vindos do céu trazendo à mão o facho de luz de Deus, dignos portanto de amor e gratidão, luz essa que procuram com carinho repassar aos seus filhos intelectuais para toda a vida.
Minha esposa Dorayrthes foi professora primária nos “sertões” de Santo Anastácio, no início de sua carreira, e conta sempre o que foram aqueles anos de ensino às inocentes mas queridas crianças da zona rural. O transporte era sobre toras de madeira transportadas por carros de boi, a água, a dos regatos próximos, o alimento o arroz e feijão sem mistura, a iluminação do quarto a fumacenta lamparina de pavio alimentado a querosene ou o luar adentrando pela janela. Mas valeu a pena, diz ela, porque seu trabalho abriu os luzores do saber a inúmeras cabecinhas sequiosas de conhecimentos e sonhadoras de um futuro mais feliz.
Jamais esquecerei os meus mestres primeiros: João Pecorari (diretor) Dona Josefina, dona Mercedes, “seo” Paternack, dona Helena, dona Valdomira, dona Ester, e Seo Euclides Orsi (que sei haver chamado meu nome nos últimos minutos de sua vida!!!). Tenho certeza de que estão no céu e talvez um dia nos encontremos na eternidade feliz, se eu a merecer, como a mereceram eles.
Lino Vitti
Ah! se a adolescência voltasse! Ah! se por um estranho milagre os tempos voltassem e nos levassem de novo àqueles dias de surpresas, de encantamento, de fuga, de sonhos, de esperanças, em que nos matricularam pelos primeiros anos no templo de cultura e saudade que é a primeira escola, a escola primaria, quando e onde zelosos e pacientes professores tudo faziam para destravar as inteligências infantis e incutir nelas o ABC, as contas de somar, subtrair, dividir, multiplicar, a maneira de fazer uma boa e louvável leitura, a história do Brasil, a geografia da Pátria, e até a ser músico ou poeta!
Todos, mas todos mesmo aqueles que tiveram esse privilégio recordam com nitidez, com infinita saudade, com esperanças de um retorno impossível, os dias em que, às mãos do pai ou da mãe, adentramos aquelas portas escancaradas, porque livres e acolhedoras, e nos dirigimos à mesa do diretor, de um mestre encarregado ou de um excelente funcionário, para dar o nosso nome, nossa filiação, nossa data de nascimento, e receber as palavras de alegria: “pronto, já estás matriculado. Agora e só aparecer todos os dias, comprar cadernos, lápis, e livros com o passar dos dias, e aprender a ler, escrever, contar, e “sonhar” com o dia de receber o diploma como passaporte para ensinos superiores e novos vencimentos e fortalecimentos da inteligência e para ser um dia algo na vida, com aproveitamento integral do trabalho condigno dos mestres primeiros que ficaram atrás, mas brilham como um farol indicativo de vitórias e saber.
Nunca na vida se esquece dos mestres que nos alfabetizaram e nos deram chances irretorquíveis de vencer na vida, e embora a quase totalidade os traga na memória cercados de luzes como num altar, de onde nos apontaram o caminho certo e vitorioso, há sempre os ingratos que dos mestres não gostam, que dos mestres se esquecem, que os mestres não amaram e quiçá não amem nunca. Eles nos guiaram como pais, nos conduziram como santas mães, nos transformaram de pessoas broncas e incapazes, em “filhos” iluminados e corajosos para sermos vitoriosos nas lutas inarredáveis da vida. Ser grato aos primeiros (e posteriores) mestres é ato divino, é ser um cidadão formado no idealismo e na cultura, na fé e nas realizações. Como é possível existir alguém que se esqueça deles, que os não lembre, que os não respeite, que não os ame, chegando alguns ao cúmulo de os odiarem, como se foram inimigos.
O inverso entretanto ocorre com a maioria daqueles que tiveram um generoso mestre primário, Daquele ou daquela que não tiveram duvidas nem receio de enfrentar o sertão, a solidão, os perigos de uma região rural, silenciosa e solitária, sem transporte e sem o calor da família e dos amigos, como herói (e heroína), para assumir o ensino primário, o ensino das primeiras letras e os primeiros números aos humildes moradores infantis do sertão. Ah! são mestres inesquecíveis, mestres vindos do céu trazendo à mão o facho de luz de Deus, dignos portanto de amor e gratidão, luz essa que procuram com carinho repassar aos seus filhos intelectuais para toda a vida.
Minha esposa Dorayrthes foi professora primária nos “sertões” de Santo Anastácio, no início de sua carreira, e conta sempre o que foram aqueles anos de ensino às inocentes mas queridas crianças da zona rural. O transporte era sobre toras de madeira transportadas por carros de boi, a água, a dos regatos próximos, o alimento o arroz e feijão sem mistura, a iluminação do quarto a fumacenta lamparina de pavio alimentado a querosene ou o luar adentrando pela janela. Mas valeu a pena, diz ela, porque seu trabalho abriu os luzores do saber a inúmeras cabecinhas sequiosas de conhecimentos e sonhadoras de um futuro mais feliz.
Jamais esquecerei os meus mestres primeiros: João Pecorari (diretor) Dona Josefina, dona Mercedes, “seo” Paternack, dona Helena, dona Valdomira, dona Ester, e Seo Euclides Orsi (que sei haver chamado meu nome nos últimos minutos de sua vida!!!). Tenho certeza de que estão no céu e talvez um dia nos encontremos na eternidade feliz, se eu a merecer, como a mereceram eles.
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