Os saltos
Carolina Luiza Prospero
O barulho dos saltos ecoava, surdo, no chão daquela casa. Era com pompa que ela entrava, olhar lívido, pupilas firmes e dilatadas – fuzilando-me magoadamente com o olhar. Reprimia o choro para não dar razão às más línguas que sempre a viam como o sexo frágil, e dessas a mais perversa era eu. Na verdade, era uma mulher forte, decidida, que tantas vezes já enfrentara provações e dificuldades, mas que no íntimo só buscava um tanto de compreensão. Era ajuda o que me pedia, ao mesmo tempo em que desejava me matar.
Jogou-me ao colo tudo o que havia pedido: as fitas, as rendas, o dinheiro. Olhei friamente para todas aquelas coisas e apalpei algumas, enquanto pausadamente perguntava: “e o resto?”. Ela esboçou então um sorriso ferido, triunfante, do alto dos seus saltos negros, e respondeu: “a minha dignidade, mas não a minha vida”.
Deu as costas para a minha poltrona xadrez, colocou os óculos escuros e se foi. Só ouvi a batida de seus saltos, que se apressavam por chegar ao carro que a aguardava do lado de fora. Entrou nele, sumiu na estrada. No entanto, ainda pude ver com segurança, do alto das minhas escadas, uma pequena e carinhosa mãozinha que ela puxava para junto de si.
Carolina Luiza Prospero
O barulho dos saltos ecoava, surdo, no chão daquela casa. Era com pompa que ela entrava, olhar lívido, pupilas firmes e dilatadas – fuzilando-me magoadamente com o olhar. Reprimia o choro para não dar razão às más línguas que sempre a viam como o sexo frágil, e dessas a mais perversa era eu. Na verdade, era uma mulher forte, decidida, que tantas vezes já enfrentara provações e dificuldades, mas que no íntimo só buscava um tanto de compreensão. Era ajuda o que me pedia, ao mesmo tempo em que desejava me matar.
Jogou-me ao colo tudo o que havia pedido: as fitas, as rendas, o dinheiro. Olhei friamente para todas aquelas coisas e apalpei algumas, enquanto pausadamente perguntava: “e o resto?”. Ela esboçou então um sorriso ferido, triunfante, do alto dos seus saltos negros, e respondeu: “a minha dignidade, mas não a minha vida”.
Deu as costas para a minha poltrona xadrez, colocou os óculos escuros e se foi. Só ouvi a batida de seus saltos, que se apressavam por chegar ao carro que a aguardava do lado de fora. Entrou nele, sumiu na estrada. No entanto, ainda pude ver com segurança, do alto das minhas escadas, uma pequena e carinhosa mãozinha que ela puxava para junto de si.
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