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terça-feira, 24 de novembro de 2009

Os pássaros não voltaram mais... - Lino Vitti


(desenho de Geraldo Victorino de França Júnior)


"OS PÁSSAROS NÃO VOLTARAM MAIS!"
Lino Vitti (Príncipe dos Poetas Piracicabanos)

Os meus inteligentes leitores verificarão que o título da crônica de hoje vem colocada entre aspas, por isso sabem tratar-se de algo escrito por mãos alheias, se é que assim posso chamar as hábeis mãos de minha esposa Dorayrthes (esposa de príncipe, princesa é) que durante 30 anos tornaram hábeis as mãozinhas de talvez milhares de crianças, sequiosas de aprender a escrever e contar.
Eis, a seguir, o que a mestra escreveu:
“OS PÁSSAROS NÃO VOLTARAM MAIS
Tudo começou com um punhado de arroz jogado no chão do jardim. Veio um casal de rolinhas, comeram e se foram sei lá para onde!
Esse punhado de arroz jogado ao léu, foi crescendo, crescendo, e aumentando até se tornar cinco quilos de alpiste, mais apreciado por aqueles pássaros.
Assim como os grãos se multiplicaram as rolinhas aumentaram na mesma proporção tão grande chegando a duzentas.
Na belíssima trepadeira repleta de flores lilazes e brancas fizeram elas seus ninhos e ali criaram seus frágeis e pequenos filhotes que esperavam de bicos abertos os alimentos trazidos pelos pais.
Um bico de lacre, assim chamado devido ao seu bico vermelho construiu também seu ninho. Olhando para cima parecia uma bola intrincada de galhos secos em cujo topo uma abertura tão pequena por onde passaria apenas aquele minúsculo pássaro.
Quando o sol começava a desaparecer no horizonte ouvia-se o chamado melancólico da rolinha talvez despedindo-se do astro-rei, deixando vagarosamente a terra. É nessa hora que o coração da gente se tornava apertado evocando talvez algum ente querido longe dali,
Os bentevis não se fizeram de rogados. Apareceram como, porque , de onde? Para terror da pobre rolinha querendo comer-lhe os filhotes.
O beija-flor vinha bebericar a água fresca e adocicada do reservatório, colocado no galho da árvore.
As roseiras com poucas flores estavam secando devagar.
Os ninhos ficaram vazios. Os pássaros se foram. O silêncio desceu lúgubre sobre aquele lugar.
Chegou o jardineiro e no seu linguajar meio caipira foi logo dizendo: “Oi , dona, é perciso cortá a trepadeira, ela já tem gaios grosso como um bambu. As roseiras tão pedindo uma enxada e a mão forte de um caipira como eu.”
Assim aconteceu. A trepadeira foi ao chão e as roseiras arrancadas daquele lugar onde nasceram, cresceram e deram muitas flores para alegrar o jardim.
O bico de lacre desapareceu. Até os bentevis não vieram mais.
A tristeza tomou conta de tudo, uma solidão desceu sobre aquele pedacinho de chão.
O tempo passa e passa tão rápido que não se sente passar. Dois esses já se foram.
Para nossa alegria a trepadeira já está brotando. Seus galhos em riste, parecem querer alçar ao céu. Galhos com muitas folhas se espalham pelo caramanchão.
Outras flores já abrem suas pétalas amarelas, vermelhas, e as orquídeas brancas exalam seu perfume.
As azaléias começam a encachar nos ramos e duas roseiras novas brotam com vigor.
Um vaso com hortências exibe, desafiando as outras flores, tufos de flores róseas, como que dizendo: estas são as mais lindas flores.
Rolinhas, bicos de lacre, corruíras, beija-flores e até vocês bentevis espero vê-los novamente alegrando o quintal.


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