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segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Ocaso - Ludovico da Silva

OCASO
Ludovico da Silva

A noite não havia chegado e o dia avançava com as cores azuis que tingiam o céu. As flores e as folhagens que enfeitavam a varanda do casarão pareciam sorrir. Percebi na manifestação de encantamento que sentiam, remexendo os corpos, num bailado coreografado de cores e luzes. A janela que dava para o quintal estava aberta. Fiquei longo tempo silencioso, admirando toda aquela agitação, que parecia acompanhada de um melodioso canto, provocado pela leve brisa, que invadia o ambiente alegre. Pensei no vento intruso, incitando o soar de música sublime, que variava nos bemóis ao bater nas talas frias das cortinas. Num vaivém lento e macio, andei pra cá e pra lá. Conversei com as flores e com as folhagens. Com as samambaias que desciam aos meus pés, como se estivessem vestidas de vestido longo, para a dança da noite. Não me ouviram. Olhei lá fora e encontrei a razão da festa. Notei um sorriso maroto do sol, que ia se escondendo lentamente, despedindo-se lá longe, nos confins da terra.
Era a última cena do dia. Fiquei triste. Fechei a janela e me recolhi.

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