Páginas

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Tanto Vaga-Lume

Tanto Vaga-Lume
Olga Martins

Só me lembro da correria doida da molecada. Mal voltavam da escola e a noitinha começava a roçar as horas, aparecia lá no final da rua um tremeluzir enlouquecido.Verdadeira constelação .
Rua sem asfalto. Rua sem modernidade dos postes iluminados. (Nem precisava que o céu vinha nos visitar algumas vezes.)
Era rua porque se chamava assim, mas lá pra baixo perto do morrão era um mar de mato.
Os anjinhos sem asas disparavam de suas casas-nuvem carregando potinhos para fazer lampião.
Estrelinha acendia aqui, piscava lá , mudando de lugar a todo instante como se o próprio céu se movesse . Pegava-se uma estrelinha e mais outra e outra mais e parecia interminável a multiplicação delas.
Era um tempo assim à toa, de algazarra luminosa, cheia de planos individuais em que cada um imaginava o que faria com aquele brilho todo. Talvez por uma espécie de compaixão não me lembro do destino das fagulhas vivas capturadas..
De volta para casa, depois do banho, do prato de comida, da conversa ligeira , enquanto os olhos não se despregavam da novela das oito, as estrelinhas viraram fogueirinha na memória.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

A moderação de comentários foi ativada. Todos os comentários devem ser moderados pelo GOLP antes da sua publicação.