O pé de alface
Dirce Ramos de Lima
A mulher fechou atrás de si a porta de vidro e caminhou alguns metros antes de alcançar o portão.
Na frente da casa havia o odor fético da grama regada por cães imundos; ao longo da avenida o detrito verde-escuro de animais pastando formava um rastro mal cheiroso.
A mulher apoiou pesadamente as mãos nas grades de ferro e viu o ônibus passar.
Sentiu uma vontade enorme de ir com ele, de fugir daquela casa grande e vazia. Pensava nos amigos e parentes que encontraria descendo as ruas. Mas, aquele era seu lar!
Ali nasceria seu filho; ali retornaria seu esposo. Ela aprenderia a amar o casarão isolado.
Pensou então no seu almoço. O arroz branco já estava cozido na panela. Nada mais havia!
O onibus lhe indicara, ao passar, que " era hora de fazer a refeição".
Mas ela esperava, esperava um milagre!
Talvez algum parente viesse visitá-la trazendo uma sacola cheia de legumes,ovos ou algum pedaço de carne!
Nisso passou uma carroça. Trazia cestos e mais cestos de verduras.
O caboclo quase se deteve para oferecer a mercadoria, mas diante do olhar indiferente e adverso da mulher, seguiu.
Foi então que ele caiu: o pé de alface!
Ficou ali jogado no chão: verdinho,macio , apetitoso!
A mulher pensou em abrir depressa o portão e agarrá-lo! Não para avisar o verdureiro, que já se distanciava, ou para remove-lo simplesmente da via publica Ela quis para si, para comê-lo.
Pensou em trazer para casa e, depois de lavar delicadamente cada folha na água fria, depositá-lo na travessa de porcelana. Regar com sal, azeite e vinagre!
Como lhe parecia gostoso o almoço agora: arroz e salada de alface!
Quase foi mas, se deteve.
E,se alguém estivesse observando? Algum vizinho afoito ou transeunte ocasional? Que diriam ao vê-la assim,quase roubando, catando do chão a sobra perdida?
Que diriam os que a vissem sair assim daquela casa de grandes janelas de vidro e cortinas de tafetá? Que diriam ao vê-la assim de vestido branco , imaculado e chinelinhas de seda japonesa, descer às sarjetas?
Que diriam eles se soubessem que seu esposo, que voltava sempre das viagens com os braços cheios de presentes exóticos, nunca trazia dinheiro suficiente para pagar as próprias dividas?
Humilhada e envergonhada pelos próprios pensamentos ela voltou e trancou-se na casa.
Pouco depois, devagar e sozinha fazia sua refeição.
Nesse dia não comeu arroz e alface. Almoçou arroz e lágrimas!
E, o pé de alface? Acabou esmagado pelas rodas de um caminhão....
Dirce Ramos de Lima
A mulher fechou atrás de si a porta de vidro e caminhou alguns metros antes de alcançar o portão.
Na frente da casa havia o odor fético da grama regada por cães imundos; ao longo da avenida o detrito verde-escuro de animais pastando formava um rastro mal cheiroso.
A mulher apoiou pesadamente as mãos nas grades de ferro e viu o ônibus passar.
Sentiu uma vontade enorme de ir com ele, de fugir daquela casa grande e vazia. Pensava nos amigos e parentes que encontraria descendo as ruas. Mas, aquele era seu lar!
Ali nasceria seu filho; ali retornaria seu esposo. Ela aprenderia a amar o casarão isolado.
Pensou então no seu almoço. O arroz branco já estava cozido na panela. Nada mais havia!
O onibus lhe indicara, ao passar, que " era hora de fazer a refeição".
Mas ela esperava, esperava um milagre!
Talvez algum parente viesse visitá-la trazendo uma sacola cheia de legumes,ovos ou algum pedaço de carne!
Nisso passou uma carroça. Trazia cestos e mais cestos de verduras.
O caboclo quase se deteve para oferecer a mercadoria, mas diante do olhar indiferente e adverso da mulher, seguiu.
Foi então que ele caiu: o pé de alface!
Ficou ali jogado no chão: verdinho,macio , apetitoso!
A mulher pensou em abrir depressa o portão e agarrá-lo! Não para avisar o verdureiro, que já se distanciava, ou para remove-lo simplesmente da via publica Ela quis para si, para comê-lo.
Pensou em trazer para casa e, depois de lavar delicadamente cada folha na água fria, depositá-lo na travessa de porcelana. Regar com sal, azeite e vinagre!
Como lhe parecia gostoso o almoço agora: arroz e salada de alface!
Quase foi mas, se deteve.
E,se alguém estivesse observando? Algum vizinho afoito ou transeunte ocasional? Que diriam ao vê-la assim,quase roubando, catando do chão a sobra perdida?
Que diriam os que a vissem sair assim daquela casa de grandes janelas de vidro e cortinas de tafetá? Que diriam ao vê-la assim de vestido branco , imaculado e chinelinhas de seda japonesa, descer às sarjetas?
Que diriam eles se soubessem que seu esposo, que voltava sempre das viagens com os braços cheios de presentes exóticos, nunca trazia dinheiro suficiente para pagar as próprias dividas?
Humilhada e envergonhada pelos próprios pensamentos ela voltou e trancou-se na casa.
Pouco depois, devagar e sozinha fazia sua refeição.
Nesse dia não comeu arroz e alface. Almoçou arroz e lágrimas!
E, o pé de alface? Acabou esmagado pelas rodas de um caminhão....
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