MEU GATO
Ruth Carvalho Lima de Assunção
Sem raça, sem pedigree, nascido na rua, feioso, maltratado e chorão.
Mudou de status, é outro, lavado, escovado, cheiroso, dengoso como ele só.
Me beija, me arranha, me enfurece, me tira do sério, me confunde e se estabelece.
Desfiou minha cortina, arranhou o meu sofá, sumiu com o pé de meia, e depois bem de mansinho vai deitar em meus lençóis.
Muito esperto, muito inteligente, vem logo me agradar. O malabarista do meu gato atira-se em mim a pedir mais afeição.
Ele sabe como me levar. Sucumbo aos primeiros apelos e meu ego acariciado entrega-se a mais amor e dedicação.
Ele é o rei. Soberano, dá as ordens, aconchega-se nas almofadas, ronca e dorme a tarde toda. Depois aquele ritual de espichar-se, virar-se, lamber os pelos, fazendo sua higiene diária, dar umas voltinhas e retornar ao sono interrompido.
Sua qualidade de vida é excelente. Pelo jeito freqüentou uma academia e um SPA, sabe muito bem que dormir é muito importante.
Se fosse possível viver como um gato...
Não é qualquer ração que ele come. Tem as suas opções. E tem opinião. Se não for aquela, ele prefere ficar sem comer, quem diria, depois de ter passado tanta fome.
Aquele magricelo, pelo ralo e curto, sempre em cólicas, agora um gatinho mesclado, focinho e patinhas cor de carne, pelos longos e macios, um rabão de fazer inveja, anda empertigado, bonachão e metido. Nunca foi ao Egito, mas se sente divinizado.
Docilmente foi se acostumando aos meus costumes e obedecendo aos meus
caprichos.
Mas alto lá, é dócil, mas também tem o seu geniosinho, é como gente, não mexa com ele.
Entendi melhor como ele é, quando outro dia passei-lhe um sabão, pois estava afiando as unhas em meu tapete.
Dedo em riste, ralhei com ele, que imediatamente pôs-se em posição
ataque e me encarou, dando-me uma resposta.
Recuei, não tive dúvida, ele estava determinado. Não estava para brincadeiras.
Os seus sentidos, tato, visão e audição são excelentes, e fazem dele um exímio caçador. Volta e meia está ele brincando, isto é, aproveitando-se da fragilidade de um ratinho, até que, enfastiado, de um golpe, acaba com a vida do indefeso.
Já notei que seu olfato não é dos melhores, isto é, é péssimo. Diferente do cão que tem o olfato bem desenvolvido, meu gato não sobreviveria se dependesse desse sentido.
Ao cair da tarde, quando o rubor do sol empalidece e desmaia, estou só, sem companhia.
- Cadê o Josué?
Será que ainda não me acostumei com as suas escapadas...
Já se esgueirou pela porta da cozinha indo percorrer a vizinhança, os sótãos, andar pelos telhados, vasculhar a rua onde moramos e o mais importante, fazer os seus contatos.
No meio das trevas suas pupilas verdes são faróis, dilatam-se, dando-lhe uma boa visão para poder encontrar as suas gatinhas preferidas.
Passo a ouvir os seus lamentos que atravessam os muros e os quintais.
Não foge dos confrontos, e pelos seus amores volta sempre para casa com as orelhas machucadas.
Esse é o Josué, meu gato angorá!
Ele é meu?
Ruth Carvalho Lima de Assunção
Sem raça, sem pedigree, nascido na rua, feioso, maltratado e chorão.
Mudou de status, é outro, lavado, escovado, cheiroso, dengoso como ele só.
Me beija, me arranha, me enfurece, me tira do sério, me confunde e se estabelece.
Desfiou minha cortina, arranhou o meu sofá, sumiu com o pé de meia, e depois bem de mansinho vai deitar em meus lençóis.
Muito esperto, muito inteligente, vem logo me agradar. O malabarista do meu gato atira-se em mim a pedir mais afeição.
Ele sabe como me levar. Sucumbo aos primeiros apelos e meu ego acariciado entrega-se a mais amor e dedicação.
Ele é o rei. Soberano, dá as ordens, aconchega-se nas almofadas, ronca e dorme a tarde toda. Depois aquele ritual de espichar-se, virar-se, lamber os pelos, fazendo sua higiene diária, dar umas voltinhas e retornar ao sono interrompido.
Sua qualidade de vida é excelente. Pelo jeito freqüentou uma academia e um SPA, sabe muito bem que dormir é muito importante.
Se fosse possível viver como um gato...
Não é qualquer ração que ele come. Tem as suas opções. E tem opinião. Se não for aquela, ele prefere ficar sem comer, quem diria, depois de ter passado tanta fome.
Aquele magricelo, pelo ralo e curto, sempre em cólicas, agora um gatinho mesclado, focinho e patinhas cor de carne, pelos longos e macios, um rabão de fazer inveja, anda empertigado, bonachão e metido. Nunca foi ao Egito, mas se sente divinizado.
Docilmente foi se acostumando aos meus costumes e obedecendo aos meus
caprichos.
Mas alto lá, é dócil, mas também tem o seu geniosinho, é como gente, não mexa com ele.
Entendi melhor como ele é, quando outro dia passei-lhe um sabão, pois estava afiando as unhas em meu tapete.
Dedo em riste, ralhei com ele, que imediatamente pôs-se em posição
ataque e me encarou, dando-me uma resposta.
Recuei, não tive dúvida, ele estava determinado. Não estava para brincadeiras.
Os seus sentidos, tato, visão e audição são excelentes, e fazem dele um exímio caçador. Volta e meia está ele brincando, isto é, aproveitando-se da fragilidade de um ratinho, até que, enfastiado, de um golpe, acaba com a vida do indefeso.
Já notei que seu olfato não é dos melhores, isto é, é péssimo. Diferente do cão que tem o olfato bem desenvolvido, meu gato não sobreviveria se dependesse desse sentido.
Ao cair da tarde, quando o rubor do sol empalidece e desmaia, estou só, sem companhia.
- Cadê o Josué?
Será que ainda não me acostumei com as suas escapadas...
Já se esgueirou pela porta da cozinha indo percorrer a vizinhança, os sótãos, andar pelos telhados, vasculhar a rua onde moramos e o mais importante, fazer os seus contatos.
No meio das trevas suas pupilas verdes são faróis, dilatam-se, dando-lhe uma boa visão para poder encontrar as suas gatinhas preferidas.
Passo a ouvir os seus lamentos que atravessam os muros e os quintais.
Não foge dos confrontos, e pelos seus amores volta sempre para casa com as orelhas machucadas.
Esse é o Josué, meu gato angorá!
Ele é meu?
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