(foto de Wilmar Santin)
Amor de Estação
Leda Coletti
Nas caminhadas matinais, Rosana passa com frequência perto daquela escola. Lá está em lugar de destaque, o casal de namorados. Ficam próximos à calçada da rua movimentada, perto da mureta, junto ao gramado verde, onde estudantes fazem “rodinhas,” e pais aguardam a saída dos filhos.
Indiferentes ao bulício do local, trocam doces afagos. A moça se recosta no rapaz alto e esguio. Dá pra notar a felicidade estampada em seus semblantes. Rosana os conhece há bom tempo. Lembra-se dela ainda menina, irrequieta, com ares de moleca, mas já irradiando frescor e beleza. Ele menos expansivo, não se expunha em demasia. Agora, já quase adultos, não conseguem esconder a satisfação de ficarem juntos.
Mas para Rosana, “ilustre desconhecida” dos namorados e fã anônima, o namoro de ambos sofre altos e baixos. Frequentemente vê a moça com aparência triste, demonstrando ter chorado muito. Chegou a pensar que cogitam possível rompimento, e até tomou as dores da rapariga. Percebe que o rapaz em várias ocasiões é indiferente aos seus chamegos.
Felizmente nesta estação fria do ano, ela está feliz e reconfortada. Ele a agasalhou e a enfeitou como uma rainha. Escolheu a cor predileta da amada para fazer os arranjos, a qual por coincidência combina com os seus cachos de ouro; teceu ricas guirlandas douradas para cobrir sua luzidia cabeleira. Para o transeunte atento, não escapou a visão do delicado tapete verde-amarelo, que ele cuidadosamente estendeu nesse pedaço do jardim. Por todo esse aparato, Rosana até justifica sua ausência de carinhos em outras épocas. “Deve comungar a idéia do viver com intensidade o presente,” pensa enquanto caminha.
Já acabou o inverno. É hora do seu passeio diário. Ao passar à frente do local, observa-os. Ele, feio com os trajes em desalinho, ela, aparência abatida, sem a luminosidade do último encontro. Os estudantes e pessoas desocupadas, quase esbarram neles, ao se acomodarem no muro baixo que os separam; não dão sequer importância à sorte do casal.
Nesse momento ela se volta para o lado que o sol desponta, e exibe seu verde-esperança, deixando-se despentear pelo vento amigo. Ele, parado, sem quase se mover, parece esperar a chuva chegar para torná-lo forte, e apto para de novo florescer. Ambos, já meus amigos, a palmeira e o ipê, símbolos do eterno amor verde-amarelo, farão uma trégua nas manifestações amorosas, mas as retomarão nos próximos invernos, dando testemunho desse amor tão brasileiro!
Leda Coletti
Nas caminhadas matinais, Rosana passa com frequência perto daquela escola. Lá está em lugar de destaque, o casal de namorados. Ficam próximos à calçada da rua movimentada, perto da mureta, junto ao gramado verde, onde estudantes fazem “rodinhas,” e pais aguardam a saída dos filhos.
Indiferentes ao bulício do local, trocam doces afagos. A moça se recosta no rapaz alto e esguio. Dá pra notar a felicidade estampada em seus semblantes. Rosana os conhece há bom tempo. Lembra-se dela ainda menina, irrequieta, com ares de moleca, mas já irradiando frescor e beleza. Ele menos expansivo, não se expunha em demasia. Agora, já quase adultos, não conseguem esconder a satisfação de ficarem juntos.
Mas para Rosana, “ilustre desconhecida” dos namorados e fã anônima, o namoro de ambos sofre altos e baixos. Frequentemente vê a moça com aparência triste, demonstrando ter chorado muito. Chegou a pensar que cogitam possível rompimento, e até tomou as dores da rapariga. Percebe que o rapaz em várias ocasiões é indiferente aos seus chamegos.
Felizmente nesta estação fria do ano, ela está feliz e reconfortada. Ele a agasalhou e a enfeitou como uma rainha. Escolheu a cor predileta da amada para fazer os arranjos, a qual por coincidência combina com os seus cachos de ouro; teceu ricas guirlandas douradas para cobrir sua luzidia cabeleira. Para o transeunte atento, não escapou a visão do delicado tapete verde-amarelo, que ele cuidadosamente estendeu nesse pedaço do jardim. Por todo esse aparato, Rosana até justifica sua ausência de carinhos em outras épocas. “Deve comungar a idéia do viver com intensidade o presente,” pensa enquanto caminha.
Já acabou o inverno. É hora do seu passeio diário. Ao passar à frente do local, observa-os. Ele, feio com os trajes em desalinho, ela, aparência abatida, sem a luminosidade do último encontro. Os estudantes e pessoas desocupadas, quase esbarram neles, ao se acomodarem no muro baixo que os separam; não dão sequer importância à sorte do casal.
Nesse momento ela se volta para o lado que o sol desponta, e exibe seu verde-esperança, deixando-se despentear pelo vento amigo. Ele, parado, sem quase se mover, parece esperar a chuva chegar para torná-lo forte, e apto para de novo florescer. Ambos, já meus amigos, a palmeira e o ipê, símbolos do eterno amor verde-amarelo, farão uma trégua nas manifestações amorosas, mas as retomarão nos próximos invernos, dando testemunho desse amor tão brasileiro!
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