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quarta-feira, 30 de setembro de 2009

(foto de Wilmar Santin)
Amor de Estação
Leda Coletti

Nas caminhadas matinais, Rosana passa com frequência perto daquela escola. Lá está em lugar de destaque, o casal de namorados. Ficam próximos à calçada da rua movimentada, perto da mureta, junto ao gramado verde, onde estudantes fazem “rodinhas,” e pais aguardam a saída dos filhos.
Indiferentes ao bulício do local, trocam doces afagos. A moça se recosta no rapaz alto e esguio. Dá pra notar a felicidade estampada em seus semblantes. Rosana os conhece há bom tempo. Lembra-se dela ainda menina, irrequieta, com ares de moleca, mas já irradiando frescor e beleza. Ele menos expansivo, não se expunha em demasia. Agora, já quase adultos, não conseguem esconder a satisfação de ficarem juntos.
Mas para Rosana, “ilustre desconhecida” dos namorados e fã anônima, o namoro de ambos sofre altos e baixos. Frequentemente vê a moça com aparência triste, demonstrando ter chorado muito. Chegou a pensar que cogitam possível rompimento, e até tomou as dores da rapariga. Percebe que o rapaz em várias ocasiões é indiferente aos seus chamegos.
Felizmente nesta estação fria do ano, ela está feliz e reconfortada. Ele a agasalhou e a enfeitou como uma rainha. Escolheu a cor predileta da amada para fazer os arranjos, a qual por coincidência combina com os seus cachos de ouro; teceu ricas guirlandas douradas para cobrir sua luzidia cabeleira. Para o transeunte atento, não escapou a visão do delicado tapete verde-amarelo, que ele cuidadosamente estendeu nesse pedaço do jardim. Por todo esse aparato, Rosana até justifica sua ausência de carinhos em outras épocas. “Deve comungar a idéia do viver com intensidade o presente,” pensa enquanto caminha.
Já acabou o inverno. É hora do seu passeio diário. Ao passar à frente do local, observa-os. Ele, feio com os trajes em desalinho, ela, aparência abatida, sem a luminosidade do último encontro. Os estudantes e pessoas desocupadas, quase esbarram neles, ao se acomodarem no muro baixo que os separam; não dão sequer importância à sorte do casal.
Nesse momento ela se volta para o lado que o sol desponta, e exibe seu verde-esperança, deixando-se despentear pelo vento amigo. Ele, parado, sem quase se mover, parece esperar a chuva chegar para torná-lo forte, e apto para de novo florescer. Ambos, já meus amigos, a palmeira e o ipê, símbolos do eterno amor verde-amarelo, farão uma trégua nas manifestações amorosas, mas as retomarão nos próximos invernos, dando testemunho desse amor tão brasileiro!

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