Eloah Margoni
Hoje, mais do que em qualquer época, por
causa dos computadores e da informática, tornou-se paradoxalmente quase
impossível crermos em deus e, ao mesmo tempo, improvável deixarmos de crer Nele!
Isso porque tudo não se resume apenas em questão de fé. Essa mesma “fé”,
mistura de nossos desejos e necessidades concretas e psicológicas, de medos e
frustrações, de nossas experiências subjetivas bem secretas, de nosso raciocínio
e observações, deságua em conclusões inevitáveis.
Quando digo ser muito difícil acreditar
em deus (com letra minúscula) falo numa entidade que nos “reconheça”. Ou
melhor, que reflita nossa imagem, considere-nos as particularidades e seja
conivente com os flutuantes valores humanos, com a limitante pequenez a qual
somos presos, elevando-nos tal entidade, de modo injusto ou corrupto até, ao
patamar dos seres mais fabulosos do universo. Por outro lado, ao pensarmos na
“nuvem” da informática, onde guardamos fotos, vídeos importantes ou idiotas que
recebemos na internet, nuvem essa para onde um celular moderno envia automaticamente
o que nos chega sem termos de solicitar ou acionar nada, colocando tudo em ordem
cronológica, anotando datas e até mesmo locais do planeta onde as fotos foram
tiradas, parece-me negligente desconsiderarmos a existência de um Deus como um
núcleo organizacional impessoal, inexorável, autossustentável, de imensurável
capacidade, humanamente inconcebível, o Qual coordene todos os processos,
formas de vida, leis paralelas e realidades deste universo, assim como as
possibilidades totais de mundos alternativos, com suas maravilhas e horrores (em
nossa concepção) que por acaso existam. Dizem os cientistas que estes mundos
existem. O referido centro energético, por outro lado, sem se ater a nenhuma de
tais realidades, cria-as, coordena e destrói universos inteiros de modo
totalmente impessoal.
Se você pesquisa um hotel na internet,
aparecem-lhe em seguida, uma série de sugestões de outros hotéis e viagens em
qualquer página na qual você esteja. Ou surgem propagandas, sugestões e alusões
relativas a seu sexo, a buscas feitas, à faixa de idade. Então, viu? A “rede”
me conhece, sabe de mim, ajuda-me, me ama de forma particular! Ora... O carro moderno dá-nos também “bom dia” como
se ali houvesse alguém a nos acolher, a TV inteligente se comunica comigo, mas
é só maquinaria. E a Wikipédia, com tantas informações as respeito de tudo? O
que tanto nos interessa ali para pesquisas é totalmente escrito por robôs,
muito embora a pessoa média, o cidadão ou cidadã comum como eu, mal saiba o que
seja um robô na internet nem como este trabalha, nem onde tais “seres”
robóticos cheios de mistérios ficam. Mas o resultado lá está ao nosso alcance.
No mais, você tinha um problema
qualquer, rezou, pediu e foi atendido. Então deus realmente existe porque o
ouviu? Até meu celular me ouve e
responde corretamente. Nem por isso creio que ele creia em mim. E também muitos
não fomos atendidos em nossas suplicantes orações, mas você sim. Trata-se só da
Vontade caprichosa desse deus estranho? Quando acionamos o aplicativo certo no
moderno telefone, acessamos a central que queremos, conseguimos o que buscamos.
Se usarmos o caminho errado ou a tecla errada, nada conseguimos. Tocando o
local exato, o aparelho me responde, mas se não encontro o caminho virtual há
erro.
Estou querendo dizer com isso que
Deus, o núcleo infinito, a absoluta concentração original de energia,
disponibiliza ferramentas estupendas, aplicativos conhecidos e desconhecidos,
programas e canais para acessarmos isso ou aquilo? Sim. Mais ou menos. Mas
longe de mim a ideia de comparar o inconcebível núcleo com máquina, pois máquina
o homem concebe, mas a energia original jamais! Está além de todos os aléns.
O fiel e o crente podem eventualmente
encontrar a ferramenta para algum procedimento junto a Deus (ou deus), mas um
sábio também pode. Só o buscador da verdade imparcial e do conhecimento passa toda
a vida tentando achar a saída do labirinto de tantos faunos e ratos. Porém, achar
ou não achar a verdade que, dizem, libertará, é questão intricada nos baús das dez
mil verdades subjetivas... Mas começar a trilhar o caminho do conhecimento é
totalmente opcional. É voluntário e exige força, recurso interior acima da
descrença que à luz da tecnologia atual nem se justifica, e igualmente acima da
fé simplista, sem razão de ser se não se mostrar ferramenta afiada, se for
apenas reflexo da ignorância, medo e esperança humanos. O buraco que existe e
que também não existe, está mais acima ou bem abaixo. Está em toda parte.
Intuí-lo, percebê-lo ou utilizá-lo e sintonizar-se com ele é outra história.