Páginas

sábado, 30 de outubro de 2010

Festa de Halloween

Festa de Halloween
Ivana Maria França de Negri

Nunca acreditara em bruxaria, entes fantásticos ou fantasmas. Zombava até quando alguém fazia qualquer menção ao sobrenatural, magia ou coisa parecida.
Foi àquela festa com a ideia de que iria apenas divertir-se. Vestiu a fantasia de cetim negro, o chapéu pontudo de abas largas e a saia com fartas camadas de tule lilás. Os sapatinhos de fivela combinavam perfeitamente com o resto da fantasia. Passou o cajal preto fortemente sob os olhos, sombreando-os com profundas olheiras e por último, fez o arremate final com batom cor violeta. Gostou do resultado ao mirar-se no espelho oval do seu quarto. Estava aterrorizantemente bela.
Na festa conheceu um lindo “vampiro”, perfeito cavalheiro, alto, atlético, em trajes negros e vestindo uma capa de um tom escarlate bem forte. Sobressaiam-se os óbvios dentes caninos muito alvos, que pareciam tão reais... Achou-os até atraentes e charmosos. Mas o que a encantou de verdade foram os olhos. Eram grandes, negros e expressivos.
Dançaram a noite inteirinha e por incrível que pareça, não se cansou. Só queria aproveitar aqueles momentos mágicos. Ele quase não conversava e também pouco sorria, mas uma atração inexplicável a fazia ficar ali, como que hipnotizada e presa ao sedutor, que a segurava de maneira sensual, apertando-a contra o peito. Parecia flutuar no salão ao som da música envolvente e suave.
Os outros convidados da reunião já iam embora e a madrugada se findava. Os primeiros raios de sol surgiram tímidos, mas cheios de fulgor. O rapaz retirou-se por instantes e ela ficou aguardando enquanto tomava um café forte que alguém oferecia no final da noitada, pois todos estavam exaustos. Como o moço estava se demorando muito, resolveu procurá-lo. Buscou-o em todos os recintos, mas não o encontrou em lugar algum. Parecia até que havia desaparecido como num passe de mágica. Muito estranho.
Caminhou até a janela para tomar um pouco de ar e viu o vulto de um imenso morcego sobrevoando o local, bem próximo ao parapeito. Por uma fração de segundo encarou o bicho de frente. E o que lhe chamou mais a atenção foram os olhos: grandes, negros e expressivos...

Inauguração da Biblioteca Municipal - Piracicaba

Vista do prédio da nova Biblioteca Municipal "Ricardo Ferraz de Arruda Pinto"
Abertura com discurso do prefeito Barjas Negri e outras autoridades

Vista geral do evento

As quatro autoras Maria Emília, Leda, Carmen e Ivana

Os livros foram distribuídos em sacolas ecológicas para os presentes
Capa do livro Quatro Contos em Quatro Cantos na versão em braille

Capa do livro Gabriel no País dos Pássaros

Leda Coletti autografando o livro Quatro Contos em Quatro Cantos

Carmen Pilotto autografando o livro infantil

Raquel Delvaje autografando seu livro Gabriel no País dos Pássaros

Ivana Negri autografando o livro infantil

Maria Emília Redi autografando

Ivana autografando para os escritores Carla Ceres e Otacílio Monteiro

Ala da Biblioteca Infantil

Livros acondicionados em sacolinhas ecológicas

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

A morte


A MORTE
Cornélio T. L. Carvalho


A morte é tão peculiar. Afasta os amigos da gente, sem perguntar.

Outubro

Outubro
Cassio Camilo Almeida de Negri

Fins dos anos sessenta. Parecia que o tempo passava mais lento naquela época.
As tardes corriam preguiçosas, transformando-se em noites calmas.
Quando o sol se escondia, lá estava ela. Tez bem clara, olhos azuis, rosto emoldurado pelos cabelos negros, com perfil de uma deusa grega, em pé, no portão de sua casa.
A separar os dois, apenas uma rua de paralelepípedos, parecendo um rio intransponível.
Todas as tardes, quando havia as trocas dos astros maiores no firmamento, lá estávamos os dois a nos olhar, olhar este, que fazia o meu coração disparar.
Quando a noite chegava, às dissonantes de um assobio da música “Tema de Lara”, uma silhueta espiava por detrás da veneziana, fazendo meu coração feliz.
Nunca mais vi tardes tão lindas, reflexos daqueles olhos azuis.
Ela, com uns doze anos, eu, com dezesseis, e um amor platônico a nos aproximar.
Dois anos se passaram bem lentos, e nós, nas margens daquela rua de paralelepípedos, todas as tardes, nos abraçando através de nossos olhares.
Um dia, porém, o grande “rio” da rua foi vencido.
O tempo continuou a caminhar vagaroso e nossas mãos se tocaram num êxtase de felicidade. Havíamos atingido o paraíso, que se transformou em céu, num dia chuvoso de outubro.
Desde então, as almas gêmeas, fundidas em uma, deram origem a muitas outras almas, num mar de felicidade.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

domingo, 24 de outubro de 2010

Pra Você

Pra Você
Adenize Maria Costa

A vida é cheia de idas e vindas... Muitas pessoas passam por nós e não é por acaso... Sempre trazem consigo algo para nos acrescentar... É certo que num determinado período a convivência pode tornar-se mais intensa... Quando estudamos juntos ou trabalhamos juntos...
Um dia os caminhos se separarão... É natural que seja assim, a vida não para, o tempo não para...
E cada um vai buscar seu crescimento... Trilhar novos caminhos...
Recentemente aprendi uma definição muito interessante sobre amizade: "A amizade é como arvorear." Todos nós temos nossas próprias raízes, cedo ou tarde, lançaremos nossos galhos, formaremos nossos brotos, cuidaremos de nossas flores e colheremos nossos frutos... Mesmo se “arvoreamos” distante, o importante é que um amigo nos reconheça ao longe e possa a qualquer momento buscar um pouco de conforto em nossas sombras e ou se aninhar em nossos galhos...
Sou uma árvore marcada pela vida, talhada pelos desafios de reflorescer, já enfrentei muitos outonos e passei por algumas primaveras...
Vi muitos amigos, pessoas queridas chegar e partir. Alguns com os quais convivi por determinados períodos, de vez em quando voltam... Muitas vezes me trazem suas flores, seus frutos, outras, trazem os espinhos para que juntos curemos as feridas... isso é que é o bom da vida!
Queridos amigos: os de longe, os de perto, os de sempre, os pra sempre, aqueles com os quais troco e-mail diariamente e aqueles de “de vez em quando”, a todos sem exceção: Minha "pequena-grande árvore "... se um dia precisar de sombra... de uma boa conversa... dividir suas alegrias e suas tristezas estarei sempre aqui, de galhos, quero dizer, de braços abertos pra você !

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Oficina Literária na Semana da Criança

Na semana da criança as escritoras Leda Coletti e Raquel Delvaje deram uma oficina literária e distribuíram livros para alunos da Escola Benedita Penezi (Piracicaba)
Raquel Delvaje declamando poesias
A diretora Roseli com alunos que declamaram poesias

Alunos da Escola Benedita Penezi
Leda Coletti contando histórias para as crianças

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Convite - Inauguração da Biblioteca


Biblioteca Pública Ricardo Ferraz de Arruda Pinto - Piracicaba

Vozes e...vozes


Vozes e ... Vozes
(palavras dedicadas a um grande amigo)
Dirce Ramos de Lima

Ah! Se você soubesse... Existem vozes e vozes e todos temos a nossa sensibilidade e receptividade para cada tipo de voz.
Nem imagina quanto podemos dizer dessas vozes todas que ouvimos diariamente nas ruas, no comércio, nas conversas, nos rádios, na TV.
Algumas doem e fugimos, algumas atraem e seduzem, outras pacificam e confortam.
Engraçado! Algumas pessoas são cara e voz tão ajustadas, que não sabemos o que surgiu primeiro: a pessoa ou sua fala. Outros são tão contraditórios que parecem implante: pegaram a cara de um e botaram a voz de outro. Então olho, escuto; escuto, olho. Daí fecho os olhos e percebo o contraste. Coitados!
Algumas vozes são tão honestas que induzem à falsidade. Ninguém pode ser tão honesto assim!
Outras são tão sensuais que não dá pra suportar. Não há sensualidade que resista a tanta apelação: vinte e quatro horas por dia, em qualquer lugar?
E, já notaram que alguns forçam a barra em público. Em particular, mudam tudo, até a voz!
Detesto filmes dublados que, aliás, são os preferidos dos semianalfabetos em geral. Nesses filmes, as vozes são sempre as mesmas; mudam os personagens, o enredo, o mistério e a voz con¬tinua igual. Ah! Droga! Olha aí essa mesma voz me perseguindo em todos os dramas, comédias, romances, etc. Já foi Papa, anjo, mocinho, bandido, assassino; já morreu, ressuscitou, riu, chorou, dormiu, acordou; tramou intrigas, foi herói, virou gay, morreu de Aids; foi médico, paciente, valentão, covarde e nunca mudou de voz. Quem aguenta isso?
De idiomas estrangeiros não entendo nada. Mas ouço a voz e já sei quem é. Eles também forçam, às vêzes. Já viu o Tom Cruise na Missão Impossivel? Impossível acreditar! Aquela voz melosa dando uma de Schwarzenegger... As cenas de paixão, então! Que horror! Não faltou paixão, faltou emoção mesmo! Mas, quando me lembro de quantas vezes tais cenas foram repetidas até serem concluídas, perdoo.
Meu professor de literatura diz que sons e vozes são tão importantes, que gostamos ou detestamos ouvir até o que não entendemos o significado real, ou seja: música erudita, música estrangeira, ruídos estranhos, vozes de animais, etc.
Se após tudo isso ainda me aconselharem trocar sua voz por alguns de seus colegas de trabalho, não me justifiquei nem me expliquei corretamente. É sua a voz que combina comigo; enaltece meu ego e tranquiliza minha alma! Fale... e estarei sempre ouvindo!

domingo, 17 de outubro de 2010

O Velho Médico

O velho médico
Cassio Camilo Almeida de Negri

O médico aposentado estava sentado na cadeira da cozinha, braços apoiados na mesa, e a sua frente, uma caneca de café com leite, que bebericava vagarosamente e na qual amolecia as torradas que comia.
Enquanto mastigava sem pressa, os pensamentos borboleteavam na mente do velho doutor.
Lembrou-se que no início da carreira ainda dava toda atenção ao paciente, conversando bastante, colhendo informações valiosas para o tratamento, palpando, tocando com as mãos, toque este que parecia fazer parte da cura, como as mãos divinas do Cristo a curar o lázaro.
O tempo foi passando, a tecnologia crescendo, veio a ultrassonografia, a tomografia computadorizada, a era digital e o paciente foi transformado em um numero:
- É o paciente do leito trinta da pediatria do pavilhão dois, diziam no hospital, não era mais o Joãozinho.
Não que a tecnologia tenha sido má, pois descobriu muitas doenças quando ainda tratáveis. O problema é que a tecnologia é mal usada, devassou os meandros do corpo e encobriu as belezas da alma.
Lembrou-se também da pressa. Quanta pressa tivera na correria do dia-a-dia indo do consultório ao hospital, aos plantões e aos vários empregos. Nem tivera tempo para si e para sua família.
Tinha tanta pressa que o tempo também acelerara. Os filhos cresceram tão rápido, nem pôde levá-los no primeiro dia de aulas, nem na primeira comunhão, quantas vezes prometera ensinar a andar de bicicleta...tantas que acabaram aprendendo sozinhos. E a casa de bonecas no quintal, que nunca construiu?
Vieram os netos e tudo se repetiu.Cresceram e ele nem percebeu.
Até o gato, quando vinha se aconchegar ronronando ao seu lado, era espantado,pois o doutor não queria pegar toxoplasmose e muito menos ser atrapalhado em seus estudos quando estava de “folga” em casa.
Agora em seus noventa anos, estava ali sozinho, pois a esposa já falecera, os filhos e netos há muito haviam voado para fora do ninho e assim como ele nunca sentira suas faltas, também não sentiam a falta de um velho esculápio tomando café com leite e torradas. Por sua mente vieram versos mal lembrados de Drummond:
- E agora, doutor
A festa acabou,
O povo sumiu,
A noite esfriou,
E agora, doutor
Pra onde?
Comeu mais um pedaço de torrada e café com leite.
Agora, sem pressa, tinha todo o tempo do mundo, mas não tinha mais o mundo para preencher o seu tempo.
Pensou que tudo o que aprendera em medicina, também não significava mais nada, tudo estava ultrapassado, o novo conhecimento substituíra o antigo.
Empurrou a caneca de café com leite para o lado, colocou a testa sobre os braços cruzados em cima da mesa e assim ficou até que duas lágrimas rolaram pela sua face.
A vida fora em vão...
Sob a forma de uma borboleta azul, um pensamento aos poucos veio se aproximando, titubeante, mas foi crescendo, até iluminar sua mente como um clarão multicolorido. A borboleta se transformou naquela pacientezinha de quatro anos que há mais de sessenta anos não pudera salvar, e que em seus últimos momentos beijara-lhe a face e derramara algumas lágrimas, tocado que fora pela compaixão.
Sorriu, montou nas asas da borboleta, deixou seu casulo e voou, voou até desaparecer no horizonte da vida.



Fotorkut


sábado, 16 de outubro de 2010

Anjo Doutor

Anjo doutor
Ivana Maria França de Negri

Dia destes, brincando na internet, caí num site sobre anjos que pedia para digitar a data do nascimento para saber qual era o nosso anjo guarda. Lendo a descrição do meu anjo, entre surpresa e incrédula, uma imediata associação de ideias me ocorreu ao descobrir que ele se chama Rochel.
No longínquo ano de 1973, eu contava pouco mais de 18 anos. Casei-me e fui morar em Brasília, onde meu marido cursava o terceiro ano de medicina. Terra estranha, não conhecia ninguém, longe da família e dos amigos, vi-me grávida e amedrontada. Meu marido estudava em tempo integral na faculdade e dava aulas num cursinho à noite para ganhar uns trocados para manter a família.
Decidimos consultar um médico para o necessário acompanhamento pré-natal. Compramos um jornal e escolhemos aleatoriamente o nome de uma médica. Marcada a consulta, comparecemos no horário combinado e pagamos a consulta, preço extravagante para um casal que vivia ainda da mesada dos pais. Após longa espera, ela nos atende muito séria. Mal conversou e examinou rapidamente minha barriga, pedindo em seguida vários exames de laboratório. Alguns dias depois, com os resultados em mãos, retornamos ao consultório, e qual não foi a nossa surpresa, quando nos foi cobrada nova consulta, sem que a médica sequer aparecesse. Era mês de dezembro e nem preciso dizer que naquele ano nosso Natal foi bem “magrinho”...
Não voltamos mais na doutora. Em conversa com um professor que também era ginecologista, meu marido comentou o fato. Ele deu-lhe um tapinha nas costas e convidou-nos a ir ao seu consultório para que ele me examinasse. Não cobraria de um “colega”, seria uma camaradagem entre profissionais. Disse isso, creio eu, apenas para não nos constranger, pois meu marido ainda nem era médico, apenas um terceiranista de faculdade.
Doutor Rochael Ribeiro era um nordestino brincalhão de seus quarenta e poucos anos e seu riso espalhafatoso alegrava qualquer ambiente, por mais frio que fosse. Não só atendeu-nos por todos os meses restantes da gravidez, com carinho de pai e extrema competência profissional, como forneceu amostras grátis das vitaminas e outros remédios necessários. Arrumou até o hospital para o parto, que foi um tanto difícil, e seu amplo sorriso e otimismo contagiante, davam forças à garota tímida e medrosa do interior.
Não contente com tudo isso, ainda apresentou-nos um amigo pediatra que acompanhou nosso primogênito nos primeiros meses, nos quais cresceu forte e saudável.
Doutor Rochael também fez o parto de nosso segundo filho, uma menina, quando meu marido, já formado, fazia a residência médica. Nunca o esquecerei. Mais que médico, tornou-se um grande amigo e nosso orientador. Talvez ele gostasse de saber que o bebê que ele ajudou a vir ao mundo, naquele ano de 1974, hoje é médico também.
Aonde quer que esteja, pois nunca mais soube dele, peço a Deus que abençoe e proteja essa figura inesquecível em minha vida e à qual serei eternamente grata. Existem médicos e Médicos. E ele certamente pertence à segunda categoria, a daqueles que fazem da profissão um verdadeiro e santo sacerdócio. Todos nós temos anjos protetores em nossa vida. E ele, sem o saber, foi um Anjo maravilhoso que apareceu no momento em que mais necessitávamos de ajuda.
Anjos não precisam ter asas. Só seus sorrisos sinceros encantam e nos fazem “voar” com eles. Obrigada por tudo anjo Rochel, ou Rochael...

PS: Essa crônica foi escrita há muitos anos e consta de meu livro de crônicas. Mas gostaria de acrescentar que, graças à Internet, encontrei há pouco tempo, meu anjo doutor, aposentado, que ainda mora em Brasília e continua com seu sorriso encantador!

Será que pega? Pega não!

Será que pega? Pega não!
Ana Marly de Oliveira Jacobino

Tinha nove anos quando a conheci. Estava iniciando o ano escolar. As aulas começaram numa segunda-feira, período da tarde. Carregava a mochila e o material escolar tinha cheiro de novo.
Entrei na escola devagar, olhando tudo, e percebi que todos me olhavam. Algumas crianças me encaravam e depois saíam apressadas. A diretora falava ao microfone encaminhando os alunos para as salas de aulas.
Na minha sala de aula muitos cartazes e mapas se encontravam pendurados nas paredes brancas. Sentei logo na primeira carteira, recomendação de minha mãe. É que eu usava óculos parecendo fundo de garrafa.
Percebi que ninguém sentou ao meu lado ou atrás. Por que será? Será que podia ter goteira no telhado logo acima dessas carteiras?
Os professores se apresentaram e falaram cada um da sua matéria. Bem, nem todos. A diretora falou que a professora Virginia, das disciplinas de Filosofia, História, Ciências e Geografia, viria dar aulas na semana seguinte, pois estava fazendo um tratamento.
Os dias passaram depressa e não consegui fazer nenhum amigo. No início da segunda semana, precisei faltar para ir ao médico. Teve lição de matemática, e nenhum aluno me emprestou o caderno.
A tristeza tomou conta de mim. Pensei com os meus botões: – Não quero mais ir à escola. Mas, na quarta-feira, a pedido de minha mãe, voltei e que surpresa eu tive! Uma caixa de papelão pintada com um cenário de um sítio e também de uma casa e sua janela de cortinas coloridas e estava bem lá, no canto da sala! Sentei e, como sempre, fiquei esperando o sinal bater, ali, sozinho. Lembro-me de que, naquele dia, estava lendo: “Emília no País da Gramática”, de José Bento Marcondes Monteiro Lobato.
A diretora entrou e pediu para todos os alunos fazerem silêncio. Ela carregou a caixa até a porta e, de repente, a própria Emilia estava falando conosco. A boneca de pano tinha os olhos arregalados e cabelo de tranças colorido.
As marionetes conversavam entre si e com os alunos também. Eu, como sempre, fiquei quieto, mas uma alegria tomou conta de mim. No final do espetáculo, os aplausos sacudiram até as janelas da sala.
Nossa! Meu queixo caiu, a boca abriu. Virginia apareceu sorrindo.
A professora estava careca igualzinha a mim. Não estava mais sozinho. Corri até ela e a abracei pelas pernas. Ah! Quanta felicidade!
Ela devolveu o abraço. E de quebra me deu um beijo estalado, um pouco molhado. Eu, que não gostava de ser beijado, subi até às nuvens e desci flutuando bem devagar. Parecia uma bolha de sabão.
– Não, Não! Mamãe, não vou faltar à escola, não!
Mesmo após as sessões de quimioterapia, sempre às sextas-feiras, eu queria, por que queria, ir à escola. Minha mãe me mandava repousar e eu dormia e sonhava com a minha professora. Ela sempre cantava e ao seu redor muitas crianças pulavam e dançavam.
Ela também foi discriminada pelos pais, alguns professores e alunos. Todavia, não se deixou abater. Todo dia era especial para ela e para mim.
Nas suas aulas a imaginação corria solta. Num dia ela vinha vestida de Napoleão, no outro com um chapéu em formato de mão. Foi numa roda de filosofia que um dos alunos lhe perguntou. Ah! Como criança sabe ser cruel!
– Professora, é verdade que câncer pega?
Eu a olhei com os olhos marejados. Sentia muita dor. Mas, uma dor que não vem de queimadura, nem de um tombo, ou de machucado no corpo. A dor estava dentro de mim.
Naquela tarde, ela estava vestida de Thor, o Deus da chuva, do trovão e das tempestades. Na sua careca um raio entrava por um lado da orelha e saia pelo outro, sem dúvida a sua tiara mostrava ser muito original.
Olhou nos olhos de todos e quando olhou nos meus olhos tenho certeza de que os seus olhos sorriram para mim.

– Pega não! Pode abraçar à vontade que você vai ganhar amor e doar alegria e gentileza.
Levantou-se, foi ao meu encontro e me deu um abraço apertado. Depois pediu para que cada um abraçasse aquele que estava ao seu lado direito e houve muitas trocas de abraços. Dessa maneira, todos se abraçaram.
Daquele dia em diante tudo mudou. As crianças se revezavam para emprestar o caderno nas minhas faltas e os seus pais sempre perguntavam sobre o meu tratamento para a minha mãe.
– Não acredito, mamãe olha quem está sentada ali!
Pois é, não acreditei, Virginia também era bruxa. Ela ia fazer a sessão de quimioterapia no mesmo horário que eu. Nossa! Naquele dia, ela leu vários livros de histórias, enquanto as gotinhas do remédio entravam nas nossas veias. Tinha mais pacientes na sala e todos atentos à sua leitura. As horas passaram rápido. A enfermeira contou que os pacientes pediam para marcar o retorno sempre no mesmo dia e horário em que ela voltaria para o tratamento.
Ficamos juntos naquele ano inteiro.
Bem! Agora, terminei a faculdade e fui escolhido para ser o orador da turma. No computador escrevi o tal discurso e saiu a minha história com a professora Virginia. Chorei de saudades. Será que ela estaria bem?
Depois de muito procurá-la, finalmente a encontrei. A escola informou o seu endereço e telefone. Liguei no mesmo instante. O meu coração cantava no meu peito, o meu corpo, feito a uma gelatina, balançava, sacudia, tremia.
– Alô! Quem fala?
– Não! Essa voz não é a dela! – A sua filha me, informou, onde ela estava.
– Fui à sua procura. Precisava olhar nos seus olhos e con¬tar da minha vitória; da sua importância como professora e amiga naqueles momentos cruciais e de como ela me salvara das outras pessoas e de mim mesmo.
Entrei pelo corredor de chão encerado e limpo. Ouvia garga¬lhadas, alguém cantava. Corri como Hermes, o mensageiro dos deuses, vesti o capacete alado, asas nos pés e nas mãos, e assim, a encontrei!
Sentada, com uma peruca de tranças coloridas, era a própria Emília, do Sítio do Pica-pau Amarelo, o livro de história aberto nos joelhos. Duas dezenas de olhinhos brilhantes ao seu redor a encaravam sorridentes. Sentei, fechei os olhos e escutei a história.
Um menino aconchegou no meu peito. Tinha a cabeça raspada, enxerguei nos seus olhos ternura e compaixão. Eu o abracei e enovelados, feito fios de lã, escutamos o final da história.
Virginia pediu para me apresentar e contar-lhes a minha história. E acabei falando da minha formatura, do porque de estar à sua procura e o quanto a amava. Havia feito Medicina, com especialização na área de Oncologia. Enfim, o começo da minha história vocês já sabem.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Um alô carinhoso para o colega Professor

(ilustração de Diva Golfier)
Um alô carinhoso para o colega Professor
Leda Coletti

Hoje é dia do professor, palavra que por coincidência rima com labor e dor. É assim que na época atual, a maioria dos professores se sente: um trabalhador sofredor. De um modo geral, trabalha com alunos, infelizmente uma grande parte, filhos de famílias mal estruturadas, que o vêem como responsável dos atos das crianças e adolescentes. Estes por sua vez, sem a base familiar emocional equilibrada, não correspondem aos estímulos recebidos na escola. Se ao menos esta fosse em tempo integral, haveria mais possibilidades de se desenvolver bons hábitos e melhor aprendizagem nos aspectos físicos, sociais e intelectuais. Isso realmente aconteceria se os nossos governos priorizassem a verdadeira Educação, e remunerasse de modo digno os professores.
Ao caro mestre, que sempre teve o ideal de formar (e não apenas informar), só posso dizer: não desanime no seu mister. Sua missão é nobre, mas cheia de dificuldades; é uma das mais sublimes, quando vivida com amor. Pessoalmente me orgulho de ter sido mestra e trabalhado na área da Educação. Tive a felicidade de exercer minha função, numa época (a partir da 6ª década do século passado) em que as transformações sociais não eram tantas e o professor era mais respeitado pelos alunos e famílias. Felizmente ainda há uma boa parte destes, que reconhecem o seu valor e o apóiam.
Todos nós tivemos vários mestres que colaboraram na nossa formação pessoal. A eles, e aos atuais mestres quero carinhosamente cumprimentá-los. Muito obrigada, por vocês existirem!

terça-feira, 12 de outubro de 2010

O professor


O PROFESSOR
Cassio Camilo Almeida de Negri

Às seis horas da manhã, o velho professor levantava, comia o pão com manteiga e café com leite, tomava seu banho com sabonete Phebo, fazia a barba com o aparelho Gilette, com aquelas lâminas que cortavam dos dois lados, vestia o terno surrado e ia à pé em direção a escola.
Em seu rastro deixava um cheiro antigo de água velva.
Sentava só, na sala dos professores, a mente mergulhada no passado, e assim ficava, pensando em tempos antigos .
Quantos garotos passaram por suas mãos, hoje cidadãos formados, médicos, advogados, prefeitos e até deputados, que ajudara a formar na escola pública.
Agora, ali, sentado só pensava nos atuais garotos, futuros cidadãos.
Seus olhos marejaram quando lembrou que dali a alguns segundos, teria que trespassar o portal da classe e enfrentar aquela turba semi ensandecida.
Lembrou-se do soco no rosto que recebera de um aluno, e apesar de irem à delegacia de policia, este dissera ter sido sem querer e nem sequer pagou os óculos que ficaram moídos.
Pior era ter que enfrentar o seu olhar nos corredores, apesar de terem colocado o adolescente em outra classe.
Sentia-se um derrotado, pois nunca mais, há muitos anos, conseguira ter um atual aluno seu em faculdade ou profissão de renome.
Percebia suas sementes semeadas nas pedras.
Mas, sua aposentadoria estava próxima, iria enfim, livrar-se de tudo isso.
A saudade apertava mais o coração, quando recordava tempos em que lia nos jornais os resultados dos vestibulares exibindo nomes de vários seus ex-alunos. Hoje, não vê nas listas nenhum nome de seus alunos.
Seu coração foi sendo apertado, apertado, até que o enfarte aliviou-lhe tal desgosto.
Quando abriu os olhos, estes se encheram de lágrimas, ao deparar com a face sorridente do famoso cirurgião que o havia operado, exclamando:
-Meu professor está de volta!
Era o mesmo semblante do menino de treze anos, que um dia fora engraxate na praça da matriz, e seu antigo aluno.
Sorriu feliz. A vida valera a pena.

domingo, 10 de outubro de 2010

A expressão artística deve ter limites?


http://gazetadepiracicaba.cosmo.com.br/conteudo/mostra_noticia.asp?noticia=1710497&area=26010&authent=FBABE9E6207007CEEE9AB2774542BD

A expressão artística deve ter limites?
Ivana Maria França de Negri

Em nome da liberdade de expressão, atitudes completamente descabidas são autorizadas em exposições de arte. Existem limites?

A arte é uma das mais belas manifestações da humanidade, mas não se pode confundir valor artístico com desrespeito, com violação de direitos de qualquer criatura.

A abertura da 29a Bienal de São Paulo teve uma obra polêmica que causou alvoroço antes mesmo da inauguração.

O artista Nuno Ramos expõe uma obra intitulada "Bandeira Branca", onde três urubus vivos ficarão amarrados até o final da exposição, prevista para meados de dezembro, sob caixas de som potentes e barulho constante.

Na abertura, alguém conseguiu cortar a tela de proteção e pichou: "libertem os urubus". Houve tumulto, a polícia foi chamada, e algumas pessoas foram levadas à delegacia e presas.

A Fundação Bienal de São Paulo apenas reparou a rede de proteção e divulgou nota lamentando o vandalismo e reafirma seu compromisso com a liberdade de expressão dos artistas e a independência curatorial.

O que mais espanta os defensores dos direitos dos animais é que a obra teve a autorização do IBAMA, um órgão que deveria, antes de tudo, proteger a integridade dos animais.

Não existe uma lei federal que diz que é crime torturar animais? O que é lícito em se tratando de liberdade de expressão artística?

Um outro pseudo-artista, Guillermo Vargas, resgatou em 2007 um cão das ruas da Nicarágua e o expôs acorrentado numa galeria de arte. Magro e doente, o cão ficou vários dias sem água e comida e morreu lentamente de fraqueza. Ninguém fez nada.

Isso é arte? Ele argumentou para a incrédula imprensa mundial que o objetivo era chocar mesmo. Pretendia denunciar injustiças e o cão morreria nas ruas de qualquer forma. Declarou que existe hipocrisia nas pessoas que se comoveram com o cão na galeria de arte, mas não fazem o mesmo com os que estão morrendo nas ruas.

Mas precisava deixá-lo morrer ali, à míngua, para dizer isso? Foi de um mau gosto e maldade extremos.

Se a moda pega, para aparecer, os artistas vão cada vez mais inventar esculturas vivas e malvadezas deploráveis. Isso não é arte! Arte é beleza, e deixar um pobre animal acorrentado para morrer de fome e sede, nada tem de belo.

Como afirmou um articulista da Folha, o lugar de artistas como Guillermo não é nos cadernos de cultura e nas galerias de arte e sim na cadeia pois foi extremamente desumano e violou a dignidade, a liberdade e o direito à vida do animal em questão.

Violar esse direito é relegar o ser humano ao nível de bestas irracionais, afinal, não somos dotados de razão e consciência?

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

V Concurso de Poesia e Prosa da SPPA



V Concurso de Poesia e Prosa da SPPA
No intuito de fomentar o gosto pela poesia, contos, crônicas e animais, a SPPA realiza este concurso e também visa poder sensibilizar a população sobre seus deveres para com os animais.

REGULAMENTO

1. Tema: ANIMAIS
2. Os participantes poderão optar por escrever contos, crônicas ou poesias.
3. Haverá duas categorias: para alunos do ensino fundamental das redes pública e particular e para pessoas acima de 18 anos.
4. Os textos podem ser enviados pelo correio, entregues pessoalmente na sede da SPPA, na Praça José Bonifácio 799, 6º andar sala 68 – Centro - Piracicaba SP cep: 13400 340 -ou através da internet pelo e-mail concursosppa@yahoo.com.br acrescido do comprovante de pagamento digitalizado.
5. Cada participante poderá inscrever quantas obras quiser. Pede-se a contribuição de R$5,00 por texto inscrito, depositados na conta: Banco do Brasil, conta 2929-7, Agência 6516-1
6. Todo dinheiro arrecadado será utilizado na compra de medicamentos para abastecer o banco de remédios da entidade e para castrações.
7. Os trabalhos inscritos passam a fazer parte do acervo da SPPA e podem ser utilizados em campanhas educativas, exposições, folders, calendários etc.
8. Prazo para entrega: até 11 de novembro de 2010.
9. O critério para a premiação, além do português correto, será a criatividade e mensagem ecológica.
10. A seleção ficará a cargo de pessoas ligadas à entidade e a grupos literários da cidade. A decisão do júri é soberana, não cabendo recurso em qualquer instância.
11. Haverá prêmios para os três primeiros colocados em cada categoria e os trabalhos selecionados serão divulgados na imprensa e em blogs.
12. O simples envio dos trabalhos implica na aceitação deste regulamento. Casos omissos serão resolvidos pela comissão organizadora.
Maiores informações pelo telefone: (19) 3432 2267
(às terças e quintas-feiras)

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Desrespeito à flora e fauna

Desrespeito à Flora e Fauna
Leda Coletti

Em Gênesis (cap.1, versículos 11,25,27,31), vemos referências à criação do mundo. Primeiro, as plantas... “árvores que dêem frutos sobre a terra, frutos que contenham semente, cada uma segundo sua espécie...” Após, as dos seres vivos, sobretudo os animais domésticos. Finalmente Deus disse: “ Façamos o homem à nossa imagem e semelhança”...e conclui que tudo que foi criado “ era muito bom”.
A natureza e tudo que nela foi criada é presente maravilhoso que recebemos gratuitamente das mãos divinas. E a nós homens foi o dado o poder de por ela zelar, mantê-la em equilíbrio. O benefício dessa atenção demonstrada, só nos traria alegria e bem-estar. Digo traria, porque a nossa realidade é bem outra. Seja perto de nós, na própria cidade em que se reside, ou em outros pontos do país e até do universo, essa ordem divina não é obedecida. É só abrir as manchetes e constatamos o mal que é feito à flora e à fauna. Pessoas despidas de sentimentos nobres estão exterminando nossas florestas, permitindo que exploradores estrangeiros e até brasileiros se apossem delas. Os animais estão sendo banidos das matas e as espécies estão sendo exterminadas. Em nível de cidades,e até no campo, significativa parte dos moradores está abandonando seus animais domésticos, em locais públicos, expondo-os aos mais sérios riscos, tornando-os candidatos de precoces e estúpidas mortes. Se não desejavam que seus animais procriassem, por que não tomaram as devidas providências? Gastam muitas vezes com o supérfluo e se esquecem (?) dos principais deveres de donos responsáveis: castrar, vacinar, alimentá-los e cuidar da saúde dos mesmos. Afinal, eles moram nas residências,daí serem chamados de domésticos, permanecendo maior parte de seus dias nesses recintos, até mais que os proprietários. Muitos cães são os guardiões das famílias. E a fidelidade “canina”, o “chamego” de um gato amoroso, não contam na convivência familiar? É tão gratificante sentir-se amado “de verdade”, por animais tão especiais! Por que repudiá-los e permitir que se tornem animais abandonados? Quanta ingratidão para esses seres que não têm voz para se defenderem! Deixo para reflexão uma mensagem do meu livro: “366 Reflexões do dia-a-dia:” Se os animaizinhos procuram oferecer-nos momentos de alegria e prazer, por que não retribuirmos esse toque de amor, com outro toque de amor?

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Animais, companheiros de viagem

http://blogolgamartins.blogspot.com/

Animais, companheiros de viagem
Olga Martins

Já contei aqui no blog sobre o cabritinho Cravinho que entrou na minha vida e nunca mais deixou minha memória em uma experiência infantil muito positiva com relação aos animais.Eu tinha 5 anos.
Fiquei pensando sobre o que gostaria de postar sobre esses companheiros de viagem que enchem nossos dias,nossas vidas e que me permitisse não ser piegas,redundante como um cachorro correndo atrás do próprio rabo.
O problema é que as ideias , às vezes têm vida própria e brincam de esconde-esconde.Surgem radiantes para em seguida se esconderem tão bem que não me resta nada além da sua faceta momentânea sem profundidade,sem continuidade,sem corpo.E num raio de muitos minutos fico vasculhando sua sombra e só encontro o vazio.
Então, concluo que hoje não postarei nada de novo sobre o assunto, apenas colocarei um poema que fiz há alguns anos a pedido da Ivana (Centro Literário, Grupo Oficina Literária, Sociedade Protetora dos Animais de Piracicaba).
Quando acompanhei alguns alunos em um acampamento, havia um jardim naquele lugar uma estátua de São Francisco de Assis entre pedras de uma fonte.Era uma coisa linda de se ver e a atmosfera serrana trazia um burburinho de lá de dentro da alma.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Definindo a saudade

DEFININDO A SAUDADE
Maria Iraci Pinto

Saudade é um cheiro de flor, misturado ao perfume de alguém que está longe.
É o som de uma música que ecoa na lembrança junto com uma voz que só nosso coração ouve.
É a presença constante de um olhar, um gesto, um sorriso, e de um corpo tatuado em nossa pele e em nossa mente.
Saudade é o que sinto de você, meu amor, sempre tão unipresente em minha horas de solidão.
Definição de saudade para mim é a sua ausência em meus dias.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Vira-lata


Vira-lata
Cassio Camilo Almeida de Negri

Chamam-me de cão vadio, mas, na verdade, sou somente sem dono, não tenho emprego, patrão, casa, quase nada , a não ser minha alminha.
Andei o dia inteiro pelas ruas procurando algo para encher o estomago.
Rasguei sacos de lixo procurando comida, restos de pizza, ossos de frango, qualquer coisa que satisfaça quando a barriga ronca.
Infelizmente hoje, a coisa está difícil, pois não sei quem teve a ideia de colocar os lixos em um suporte alto para eu não alcançar. Além disso, a concorrência é grande e tem até alguns humanos que também fuçam o lixo à procura de restos, ficando eu a ver navios, sobrando-me os restos dos restos.
Quando tem papel higiênico misturado, geralmente alguns humanos não comem (alguns não ligam) mas eu me não importo, já que na nossa espécie é normal cheirarmos uns aos outros, pois é assim que nos cumprimentamos e nos conhecemos. Os humanos têm outros costumes, como dar as mãos ou dar beijinhos.
Agora na época do frio, estou sofrendo um pouco. Outro dia, ao fuçar um lixo,um humano fêmea, ficou me esperando escondido atrás do muro de sua casa onde eu costumava comer quase todo dia, pois seu lixo era rico para mim e para comer tinha que rasgar o plástico, o lixo ficando espalhado e como não tenho mãos, não podia junta-lo novamente.
Estava feliz pois tinha um belo osso usado para me atrair. De repente,senti algo me queimando.
Ela jogou-me uma panela cheia de água fervendo.Sai correndo e ganindo, mas por algumas noites não consegui dormir de dor, e percebi que havia ficado cego de um olho que explodiu com o calor. Gani devido a dor lancinante por vários dias e noites, pois em minhas costas peladas e no olho vazado se criaram bernes até que se tornaram moscas adultas e foram embora. Enquanto isso, o bálsamo da natureza fez com que as feridas se curassem .
Hoje, a dor passou, tudo cicatrizou, mas continuo caolho e o pelo das minhas costas nunca mais cresceu, fiquei parcialmente pelado.
Agora mesmo, encolhido neste cantinho, passo muito frio sem eles.
Mesmo assim,luto pela minha vidinha, até quando me chamarem lá em cima, pois ela é preciosa e não devo desperdiçá-la. Meu consolo é que tudo isso porque passo são experiências úteis para minha ascensão no evoluir da vida.
Apesar de tudo por que passo, tem outros irmãozinhos em pior situação que a minha, são os bois, porcos e aves, pois além do sofrimento, não tem esperanças nem liberdade.
Eu, ainda posso ter a esperança de encontrar um humano com compaixão, que me acolha em sua casa.
Os outros meus irmãozinhos não, pois são criados para a morte. Eles tem um grande sofrimento nas granjas, confinados, bicos cortados, castrados e desesperam-se ao caminhar no corredor da morte nos matadouros, querendo sair dali, mas empurrados á frente por meio de bastões que dão choque elétricos.
Triste fim sofrido o deles, criados para encher a barriga dos humanos .
Eu, mais feliz, tenho até sociedades protetoras que me dão guarida, eles , nada pois até alguns membros dessas sociedades, ainda não perceberam o sofrimento dessas criaturinhas e eles próprios se deliciam com seus cadáveres, incentivando assim esses holocaustos.
Eu aqui no meu cantinho, passando frio e fome, cheio de cicatrizes causadas pelos humanos, sou mais feliz.
Bem, agora vou dormir um pouco para esquecer tanto sofrimento. Boa noite.

domingo, 3 de outubro de 2010

Ao meu santinho de Assis

http://gazetadepiracicaba.cosmo.com.br/conteudo/mostra_noticia.asp?noticia=1709295&area=26010&authent=FD55072A835227C810747ED46762BB

Ao meu santinho de Assis
Ivana Maria França de Negri

Querido santinho de Assis.

Vós que fostes exemplo de humildade, andastes em andrajos e pés descalços no chão.

Vós que amastes a natureza e chamastes os astros do céu de irmão Sol e irmã Lua.

Vós que conversastes com os passarinhos e amansastes as feras da floresta apenas com vosso olhar pacífico e amoroso.

Vós que fostes poeta, pacifista, ecologista e protetor dos animais.

Vós que consolastes os sofredores, estendestes a mão aos pobres e curastes os doentes.

Vós que tivestes uma fé inabalável em Deus e jamais duvidastes da Justiça Divina.

Vós que passastes dias inteiros em arrebatamento, orando e meditando em silêncio contemplativo.

Vós que cantastes hinos em louvor ao Criador de todas as coisas com a alma sintonizada em etéreas dimensões.

Vós que abandonastes o conforto e as riquezas mundanas para viver recluso numa capelinha na montanha, escutai esta minha prece.

Peço neste dia, que derrameis vossa bênção e protegei todas as criaturas que não sabem falar, mas sentem dor, fome, sede, tristeza, como nós humanos, mas são tratadas com desdém.

Consolai as criaturas aladas presas em minúsculas gaiolas, pois nunca poderão adejar asas e voar felizes no azul do céu.

Amparai os que puxam carroças e têm o dorso coberto de escaras pelo açoite constante.

Livrai os bois de rodeio e os sangrados nas touradas desse sofrimento sem finalidade alguma que os humanos chamam de diversão.

Volvei teu olhar de bondade às pobres cobaias de laboratório que têm seus corpos retalhados em vida, sentindo dores terríveis para servir à ciência.

Derramai também um bálsamo curativo que abrande a dor das feridas dos que são abatidos em caçadas, dos que são utilizados sem piedade em rituais religiosos, e dos que têm seu corpo descarnado para que suas vísceras sirvam de alimento ao homem.

Protegei os animais de circo, presos em jaulas pequenas e sempre à mercê de crueldade dos seres humanos.

Soprai nos corações pétreos dos homens, um pouco que seja da vossa infinita bondade a fim de que a misericórdia e a compaixão neles faça morada. Amém.

sábado, 2 de outubro de 2010

Evento no SESC - Piracicaba - Mini Feira do Livro

Varal de poesias e pequenas prosas
Aracy Duarte Ferrari e sua cesta de poemas no evento em comemoração ao Dia Nacional do Idoso no Sesc, no qual os grupos literários Clip e Golp foram convidados a montar uma pequena feira de livros Professor Cornélio, Ivana e Ruth

Professor Cornélio, Leda Coletti e Ruth Assunção
Livros distribuídos na feirinha do livro

Livros, poesias e textos disputadíssimos entre os os mais de 600 idosos presentes

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Hipócritas

Hipócritas
Cassio Camilo Almeida de Negri

Constam como reinos da natureza o mineral, o vegetal e o animal, incluindo neste último, o homem.
Também consta que o reino mineral é o menos evoluído. O vegetal, intermediário, e o animal, o mais evoluído dos três. Camille Flamarion, astrônomo e espiritualista, traduzindo a sabedoria milenar disse: “a alma dorme na pedra, sonha no vegetal, se agita no animal e acorda no homem”.
É óbvio que, do ponto de vista científico, o mineral tem muito pouca organização quanto à sua estrutura, nem se comparando com o vegetal e menos ainda com o animal que é muito próximo do homem e é até usado em experiências científicas por ser semelhante ao ser humano.
No entanto, os humanos se sensibilizam muito quando a CPFL poda algumas árvores da rua, vão até aos jornais denunciar, ficam revoltados, enquanto caminham até o açougue mais próximo para comprar um ou dois quilos de carne.
Hipócritas! dizia Jesus, vêem o cisco no olho do outro mas não enxergam a trave diante dos seus próprios olhos.
As pessoas não percebem que ali é uma casa a exibir sofrimentos. É só ter olhos para ver! Os corpos mutilados são expostos só para que o homem encha sua barriga, com cadáveres que apodrecem em seu organismo e, como castigo, irão causar, no futuro, doenças diversas tais como câncer e derrames, entre outras.
Tais pessoas vão com a correnteza das opiniões comuns e não conseguem pensar por si mesmas.
Temos tanta pena de uma árvore, que não sente dor (por não ter sistema nervoso), e nenhuma pena de um peixe, que tem a goela dilacerada por um anzol pontiagudo que o retira de seu
lar silencioso para o deixar morrer afogado no ar. Ou então, este símbolo do ser pacífico, o boi, ter sua fronte rompida por uma marreta dirigida por mãos humanas assassinas.
Quando vir alguém cortando uma árvore, lembre-se de que seu estômago está milhões de vezes mais cheio de sofrimento e dor do que aquele machado que dilacera a árvore.