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Reunião na Biblioteca

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Impermanência *


Ivana Maria França de Negri

     Uma das passagens bíblicas mais belas se encontra em Eclesiastes 3:1-8.
            “Tudo tem o seu tempo determinado e há tempo para todo propósito debaixo do céu. Há o tempo de plantar e o tempo de colher, o tempo de chorar e o tempo de rir, há o tempo de amar e o tempo de odiar, há o tempo de falar e o tempo de calar, o tempo de construir e o tempo de desconstruir, há o tempo de espalhar pedras e o tempo de juntá-las, há o tempo de guardar e o tempo de jogar fora, há o tempo da guerra e o tempo da paz, há o tempo de abraçar e de se distanciar, há o tempo de viver e o tempo de morrer...”
            E eu acrescentaria muito mais... Há o tempo alegre da infância, o tempo dos arroubos da juventude e o tempo da reflexão na velhice. O tempo das pernas fortes para caminhadas e o tempo de pernas trêmulas, que precisam do auxílio de uma bengala.
            Há o tempo da estiagem e o tempo das cheias, o tempo da escassez e o tempo da fartura. O tempo da luz e o tempo da escuridão.
            Há o tempo da crise e o tempo da bonanza.  O tempo de vociferar e o tempo de silenciar. Há o tempo de trabalhar e o tempo de aposentar. Há o tempo de sonhar e o tempo de tornar real.
            E nenhuma folha cai de uma árvore sem que tenha chegado o seu tempo.
            E essa alternância é que faz a magia da vida. Só podemos dar valor às coisas quando elas nos faltam. Se não tivéssemos a escuridão, não daríamos valor para a claridade.
            Quando chove bastante, sentimos falta do calor do sol. Mas quando o sol é causticante por dias ou meses seguidos, e a chuva chega, dizemos que é abençoada.
            Brigamos e implicamos com as pessoas que vivem sempre ao nosso lado. Mas quando, por algum motivo, vão para bem longe, sentimos uma saudade imensa e queremos sua presença de volta.
            Aprendemos com a vida que nossa ligação com as coisas existe por um tempo apenas, jamais será eterna. No Budismo, usa-se o termo “impermanência” para essa experiência de ligar-se e desligar-se de todas as coisas. O Tempo conta o tempo diferente de como contamos nosso tempo.
            Até um relacionamento amoroso, que foi rotulado de “felizes para sempre”, um dia cessa, seja porque a paixão esfriou, o amor declinou, por desgaste, ou mesmo pela maneira mais drástica, a morte. A vida é a coisa mais impermanente que existe.
            E tudo é perfeito e maravilhoso em sua impermanência.
            E tudo é milagroso e justo, porque os ciclos se alternam. Existe um ditado popular que diz: “Não há bem que sempre dure e nem mal que seja eterno”.
            Tudo é temporário, transitório e efêmero.
            Nada é para sempre. E nem deve ser.

* texto publicado na Gazeta de Piracicaba

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