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Com o escritor Ignacio Loyola Brandão

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Reunião na Biblioteca

sábado, 10 de janeiro de 2015

Mania de corrigir


Plinio Montagner 

Tenho um amigo cuja amizade já passa de 40 anos. É muito gentil, alegre, mas exigente na comunicação. Traduzindo, tem mania de corrigir quem escreve e fala errado.
Depois que se aposentou ficou mais atento ainda à linguagem social. Seus amigos, vez ou outra, o aconselham a parar com essa mania deselegante, e deixar os outros em paz. Mas não consegue. Já chegou ao patamar da “tolerância zero”.
Se alguém diz alguma coisa que exija algum esforço para entender, frases ambíguas, por exemplo, ou ele se faz de surdo, ou tem uma resposta na hora.
A verdade é que não relaxa. Seu cérebro não consegue processar a linguagem do dia a dia, frases sem sujeito, sem verbos ou incompletas. Os jovens, para ele, falam outra língua.
Esse amigo foi professor de Português durante muitos anos, razão porque esse hábito de corrigir, mesmo em tom de brincadeira.
Frases com muitos pronomes também não consegue decifrar. No comércio os diálogos com os vendedores chegam a ser cômicos.
Um dia eu o acompanhei a uma loja de ferramentas. Quando chegou sua vez, o vendedor, sem falar bom dia ou boa tarde, foi direto:
- O que é o seu?
Bastou para emendar: - O que é meu? Não entendi. O senhor deseja saber o que eu quero?
Noutra ocasião confidenciou-me que uma atendente de farmácia disparou: - “O que que é do senhor?”  
Aí, o que ele fez foi uma piada. Tirou dos bolsos sua esferográfica, um canivetinho suíço, carteira, chaves do carro, e pôs tudo sobre o balcão:
- Moça, tudo isso aí é meu.
A vendedora ficou com semblante de foto instantânea.
- Ué, a senhora não me perguntou - o que que é meu?
Pleonasmos, os mais simples, do tipo “planos para o futuro, encarar de frente, criar novos cargos, ganhar grátis”, sugerem comentários engraçados. E fica perguntando: - Alguém encara de lado? Quem ganha alguma coisa, precisa pagar? Alguém cria cargos velhos? Alguém faz planos que não sejam para o futuro?
Outra pergunta que ele não perdoa é: - O senhor tem telefone para contato?  Daí retruca:
- Mas existe telefone que não seja para contato?
Em sua casa seus filhos evitam falar perto dele. Uma vez um deles comentou que à noite ele “soava” muito. Interveio na hora:
- Agora você virou sino?
Outro fato engraçado aconteceu numa revenda de veículos. O vendedor flagrou-o admirando um carrão, modelo novo. De longe foi falando:
- Senhor, esse veículo é “filé”. Mas há um problema. Ele está reservado.
Enjoado de argumentos desse tipo, fez que não ouviu e dirigiu-se à saída. O vendedor tentou novo contato:
- Mas o senhor já vai? E o carro? Não vai levar?
- Eu queria, mas o senhor me disse que estava prometido a outro comprador...
- Sim, mas podemos negociar outro carro com ele...

- Ah, não! Não vou estragar o prazer desse outro cliente. Imagine se ele vier à loja para levar o carro e o senhor dizer a ele que já foi vendido...

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