As reuniões do Grupo Oficina Literária de Piracicaba são realizadas sempre na primeira quarta-feira do mês, na Biblioteca Municipal das 19h30 às 21h30

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Com o escritor Ignacio Loyola Brandão

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Reunião na Biblioteca

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Vira-lata


Cassio Camilo Almeida de Negri

Chamam-me de cão vadio, mas, na verdade, sou somente sem dono, não tenho emprego, patrão, casa, quase nada , a não ser minha alminha.
Andei o dia inteiro pelas ruas procurando algo para encher o estômago.
Rasguei sacos de lixo procurando comida, restos de pizza, ossos de frango, qualquer coisa que satisfaça quando a barriga ronca.
Infelizmente hoje, a coisa está difícil, pois não sei quem teve a ideia de colocar os lixos em um suporte alto para eu não alcançar. Além disso, a concorrência é grande e tem até alguns humanos que também fuçam o lixo à procura de restos, ficando eu a ver navios, sobrando-me os restos dos restos.
Quando tem papel higiênico misturado, geralmente alguns humanos não comem (alguns não ligam) mas eu me não importo, já que na nossa espécie é normal cheirarmos uns aos outros, pois é assim que nos cumprimentamos e nos conhecemos. Os humanos têm outros costumes, como dar as mãos ou dar beijinhos.
Agora na época do frio, estou sofrendo um pouco. Outro dia, ao fuçar um lixo,um humano fêmea, ficou me esperando escondido atrás do muro de sua casa onde eu costumava comer quase todo dia, pois seu lixo era rico para mim e para comer tinha que rasgar o plástico, o lixo ficando espalhado e como não tenho mãos, não podia junta-lo novamente.
Estava feliz pois tinha um belo osso usado para me atrair. De repente,senti algo me queimando.
Ela jogou-me uma panela cheia de água fervendo.Sai correndo e ganindo, mas por algumas noites não consegui dormir de dor, e percebi que havia ficado cego de um olho que explodiu com o calor. Gani devido a dor lancinante por vários dias e noites, pois em minhas costas peladas e no olho vazado se criaram bernes até que se tornaram moscas adultas e foram embora. Enquanto isso, o bálsamo da natureza fez com que as feridas se curassem .
Hoje, a dor passou, tudo cicatrizou, mas continuo caolho e o pelo das minhas costas nunca mais cresceu, fiquei parcialmente pelado.
Agora mesmo, encolhido neste cantinho, passo muito frio sem eles.
Mesmo assim,luto pela minha vidinha, até quando me chamarem lá em cima, pois ela é preciosa e não devo desperdiçá-la. Meu consolo é que tudo isso porque passo são experiências úteis para minha ascensão no evoluir da vida.
Apesar de tudo por que passo, tem outros irmãozinhos em pior situação que a minha, são os bois, porcos e aves, pois além do sofrimento, não tem esperanças nem liberdade.
Eu, ainda posso ter a esperança de encontrar um humano com compaixão, que me acolha em sua casa.
Os outros meus irmãozinhos não, pois são criados para a morte. Eles tem um grande sofrimento nas granjas, confinados, bicos cortados, castrados e desesperam-se ao caminhar no corredor da morte nos matadouros, querendo sair dali, mas empurrados á frente por meio de bastões que dão choque elétricos.
Triste fim sofrido o deles, criados para encher a barriga dos humanos .
Eu, mais feliz, tenho até sociedades protetoras que me dão guarida, eles , nada pois até alguns membros dessas sociedades, ainda não perceberam o sofrimento dessas criaturinhas e eles próprios se deliciam com seus cadáveres, incentivando assim esses holocaustos.
Eu aqui no meu cantinho, passando frio e fome, cheio de cicatrizes causadas pelos humanos, sou mais feliz.
Bem, agora vou dormir um pouco para esquecer tanto sofrimento. Boa noite.

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