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Reunião na Biblioteca

terça-feira, 6 de setembro de 2011

CIDADES DE OUTRORA


Pedro Israel Novaes de Almeida

Eram curiosas as cidades de outrora.
As casas começavam já nas calçadas, com janelas que abriam para fora, e não raro atingiam em cheio o pedestre, forçando-o a recitar, um a um, todos os palavrões disponíveis e aprendidos. Eram raras as garagens, e pouquíssimos os veículos.
Os quartos davam para as salas, e qualquer ida ao banheiro era notada pelas visitas. Tal situação pode justificar a presença de penicos, mesmo em residências que contavam com banheiro interno.
O penico constituiu o mais estranho e anti-higiênico utilitário doméstico, afortunadamente desconhecido pelas novas gerações. Pode ser considerado idoso, bem idoso, o cidadão que o conheceu.
As calçadas eram minúsculas, corroborando o hábito do marido seguir na frente, secundado, à distância, pela mulher e filhos. Sovinas cultuam até hoje o hábito, evitando que a família estacione perante vitrines e acabe tentada ao consumo.
As ruas eram igualmente estreitas, não permitindo ultrapassagens na área urbana. Era grande o número de carroças e charretes, obrigando à colocação de bebedouros, para os animais, que deixavam as vias repletas de estrumes.
As charretes funcionavam como táxis, enquanto as carroças possuíam espaços para o transporte de cargas e pessoas. Circos e parques, itinerantes, animavam as cidades.
Os lixeiros já eram heróis, posição que ainda ostentam. Apanhavam as latas depositadas nas calçadas e as vertiam em caminhões abertos, devolvendo-as, em seguida, à inicial localização.
Haviam guardas noturnos, vestindo capas e portando porretes, que perambulavam e manejavam apitos capazes de anunciar a presença e roteiro de qualquer estranho ou suspeito. Ao sinal combinado, todos convergiam ao mesmo ponto.
Leite e pão eram entregues de porta em porta, e o óleo comestível, arroz, feijão e ovos eram vendidos a granel. Toda casa tinha um depósito de lenha, que servia os fogões e esquentava os chuveiros.
Os partos eram caseiros, e as cesarianas impossíveis. As casas mais ricas contavam, invariavelmente, com um piano. As moças eram educadas para serem esposas e mães.
As praças fervilhavam, reunindo multidões, sob o som de alto-falantes que davam recados, além de irradiar propaganda e música. O silêncio noturno começava às 22:00 horas.
Nos quintais, latas, tijolos e madeira serviam de escada para as fofocas entre vizinhas, pelo muro. Eram autoridades o prefeito, o médico, o dentista, o professor, o juiz, o delegado, o dono do cartório e o grande fazendeiro.
Haviam sapateiros, alfaiates, amoladores de facas e ferreiros. As cidades pouco interagiam, as notícias eram tardias e as novidades raras.
A ascensão social era um milagre, e a pobreza confinada.

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