As reuniões do Grupo Oficina Literária de Piracicaba são realizadas sempre na primeira quarta-feira do mês, na Biblioteca Municipal das 19h30 às 21h30

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Com o escritor Ignacio Loyola Brandão

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Reunião na Biblioteca

quinta-feira, 7 de julho de 2011

SAUDADE...


Maria Cecilia Graner Fessel

Essa amiga chegou-me numa tarde fria, chuvosa, após uma grande tempestade. Impossível não fazê-la entrar e enxugar-se, embora não a conhecêssemos, pois assim nos manda a caridade e ordenou-nos o coração. Criou-se assim um sentimento firme de amizade, de conforto mútuo, de afinidades.
Não que fosse uma personalidade de trato fácil, isso não. Exigente em suas necessidades, queria ser atendida imediatamente quando nos encontrávamos, e insistia até conseguir o que queria. Se tudo não fosse como desejava, virava-me as costas e ia emburrar no sofá ou no cadeirão da sala. Onde, então, não admitia ser incomodada.
Mas gostava de brincar, de exibir-se, de mostrar como era superior. Adorava embrulhar-se em grandes lenços coloridos e transparentes onde, a salvo, nos provocava a tocá-la. Aí, então, fugia, defendia-se com unhas e dentes, até que os panos escorregassem de seu corpo e ela se visse exposta, toda sem graça.
Ao se alimentar, o leite tinha que estar na temperatura certa, sempre morno, que ela não gostava de surpresas: se frio, ali sentada, olhava-me com ar aborrecido a dizer-me: “Ainda não aprendeste?!” Detestava cação , mas apreciava muito um abadejo sem gordura . Não era amiga de doces, porém fazia escândalo para que repartisse com ela um pote de danone, de preferência de morango.
Igual a qualquer um de nós, achava um insulto ser ignorada numa reunião, passeando entre os presentes até ser notada e elogiada. No entanto, percebia quando eu estava triste ou angustiada sem que eu lhe dissesse nada, e vinha ficar ao meu lado, fixando-me em silêncio, para que eu sentisse que não estava só em minha preocupação.
Certa noite, indisposta, ajeitou-se em sua cadeira predileta e nunca mais acordou.
Mas impregnou tanto nossa vida, que volta e meia falamos dela, e ainda a vemos passear às vezes pela casa, uma sombra silenciosa e pacífica, nossa velha gata Mila...

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