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domingo, 20 de março de 2011

Águas que rolaram - Parte II

Ruth Carvalho Lima de Assunção

Após ler e reler as lembranças do artigo anterior veio-me a necessidade de um complemento mais audacioso que me redimisse dos pecaditos da infância, me consolasse e colocasse minha mãe em seu devido lugar – de mãe.
Levei um pito. Um pito que me deixou sem chão. Acabrunhada, com uma lágrima pendente na ponta do nariz corri para minha cama, em busca de consolo.
Agarrei-me ao travesseiro, puxei o cobertor tentando abafar os meus soluços tão
sentidos Eu correra tanto, não era fácil acompanhar o meu irmão, ele era o grandão, voltei com aquela dor que sempre me dava quando eu corria, bem na barriga da perna, e eu queria ver o sorriso dela, de felicidade, eu tinha a certeza que ela ia me agradecer.
Não era aquilo que eu esperava. UM PITO.
Eu queria, eu queria mesmo era um grande abraço, um abração. E dormi bem abraçada ao travesseiro. De pés sujos e cabeça rodando.
Depois, meio dormindo, meio acordada percebi minha mãe me carregando e me levando para o banheiro e fui entrando em baixo do chuveiro. Foi aquele banho, que além de tirar a terra, também levou as minhocas de minha cabeça.
Foi muito gostoso, a medida que mamãe falava, que se desculpava, os meus medos, os meus demônios iam se afastando e eu passei a rir quando ela me abraçou dizendo que aquilo não iria mais acontecer, que ela só queria o meu bem, a minha alegria e o meu amor.
Bom, não é preciso contar que passei a dormir, sentindo-me um anjinho.
A Revolução continuava. Muitos comitês, geralmente liderados por mulheres, se organizaram na intenção de levar às famílias, palavras de apoio e de esperança.
Discussões, intrigas, sabotagens iam se consolidando, se interligando em tramas de uma nova guerra. A politicagem se posicionava, queria levar vantagem.
As famílias religiosas continuavam a orar todas as noites pelo fim desse confronto que só viria dividir, retalhar um continente, e o pior, trazer em nossos corações o ódio pelo irmão. E a oração que protege, que nos livra dos males, que
nos guia, não faltava. Todas as noites terminavam com o infalível ...Santo anjo do Senhor, meu divino guardador, se a ti me...
Daí a alguns dias eu olhava a rua quando muitas cabeças surgiram nas janelas gritando:
A Guerra acabou, a Guerra acabou. Mulheres e crianças saíram para as ruas. A maioria dos homens ainda estava nas trincheiras, e talvez nem soubessem das últimas.
Mamãe, papai vai voltar?
Graças a Deus. Ele ouviu as nossas preces.
Como ele vem? A pé?
Eu acho que ele vem de trem.
Quero ver o trem. Ele é bonito?
Vamos esperar mais um pouco. Por enquanto não sabemos muita coisa.
Seu pai logo estará entre nós. E vai voltar para a escola, onde é o seu lugar.

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